ÚLTIMAS NOTÍCIAS
Não basta produzir bem para ter sucesso no campo

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja

A falência de uma propriedade agrícola não é um acontecimento estranho à atividade rural e ocorre com mais frequência do que o aceitável. Muitos agricultores, infelizmente, já experimentaram esse indesejável destino. Mas o que não é aceitável, é o agricultor falir sem saber o porquê. Quando isto acontece, o culpado pode ter sido o clima, o mercado ou a interferência desastrada do governo. Mas, também, pode ser consequência do descontrole do proprietário sobre receitas e despesas do empreendimento, resultado do gerenciamento deficiente dos custos de produção e da estratégia inadequada de compra dos insumos e comercialização da safra.

Valer-se de modernas técnicas de gestão no manejo de uma propriedade agrícola é fundamental para saber se vale ou não a pena continuar no negócio. Dado o tamanho da propriedade, pode ser inviável continuar na produção de certos produtos (grãos, por exemplo), mas pode ser economicamente viável na produção de produtos com maior valor agregado, como suínos e aves, frutas ou hortaliças, desde que essa transição seja assistida por profissionais do ramo, oriundos de organizações públicas ou privadas.

Seja continuando na atividade original ou migrando para novas empreitadas, tudo precisa ser analisado e administrado profissionalmente. Não há mais espaço para aventureiros na atividade agrícola, onde já não basta produzir bem, porque isto a maioria dos produtores sobreviventes já o fazem. Precisa-se fazer mais, principalmente administrando eficientemente o lucro das safras anteriores, os quais podem ser resultado da economia realizada com a compra antecipada e à vista dos insumos de produção e da venda antecipada ou escalonada da safra, aproveitando picos de alta do mercado. A depender da safra, esta estratégia pode resultar em benefícios financeiros mais expressivos do que a venda da própria safra.

O hábito de registrar os custos e os rendimentos da atividade rural é pouco praticada entre pequenos e médios agricultores familiares, seja porque estes não sabem como fazê-lo ou porque não lhes sobra tempo para realizar tais tarefas, que consideram muito trabalhosas. Saber quanto se gasta na obtenção de determinada safra e quanto sua comercialização rende em termos financeiros, é fundamental para a sobrevivência de uma propriedade agrícola.

Nos cálculos do lucro auferido de uma safra, o agricultor não pode considerar apenas as despesas com os insumos diretos utilizados no processo produtivo (fertilizantes, agrotóxicos, sementes). Há outros custos que precisam ser considerados para calcular o lucro. Por exemplo, quanto custa a manutenção das máquinas, dos equipamentos e da estrutura física da propriedade; qual o montante de desvalorização desses bens; quanto vale a mão de obra da família empenhada na produção da safra; quanto renderia o aluguel da propriedade ou o seu valor aplicado num banco de investimentos, entre outras despesas.

Esses registros permitem avaliar o desempenho econômico da propriedade para a tomada de decisões estratégicas sobre o futuro do empreendimento: continua como está, porque é rentável; agrega valor à produção para torná-la mais lucrativa; muda para a produção de outros ativos mais rentáveis; ou vende a terra e aplica os recursos auferidos no mercado financeiro?

Além de produtor eficiente, o agricultor moderno precisa ser um bom gestor dos recursos que sobram em anos de fartura e faltam em anos de carestia.

Fonte:http://blogs.canalrural.com.br/embrapasoja/2017/08/09/nao-basta-produzir-bem-para-ter-sucesso-no-campo/

Fale conosco