ÚLTIMAS NOTÍCIAS
Embrapa Soja publica comunicado técnico com orientações sobre o uso de parasitoides
Adeney de Freitas Bueno,  chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Soja
 
O uso do controle biológico de pragas é uma realidade na agricultura ao redor do mundo, na busca por uma produção de alimentos cada vez mais sustentável e com menor uso de insumos químicos sintéticos. Essa é uma grande demanda da sociedade mundial e do mercado consumidor que vem sendo atendida pelos agricultores, com o respaldo de pesquisas científicas que promovem o avanço do conhecimento na área.

 

O Brasil, até mesmo beneficiado por sua rica biodiversidade, vem sendo exemplo ao mundo no uso dessa tecnologia, com a adoção do controle biológico crescendo significativamente a cada ano. Nesse contexto, é importante salientar que a Embrapa Soja sempre teve a sustentabilidade da cadeia produtiva da soja como cerne principal de suas pesquisas, dedicando muito de seus esforços para desenvolver estratégias de controle biológico de pragas. Diversas publicações na área de controle biológico de pragas foram e continuam sendo ofertadas pela Embrapa Soja, podendo ser acessadas gratuitamente no site da instituição. Assim, como resultado desse esforço para tornar a cadeia produtiva da soja cada vez ainda mais sustentável, a Embrapa Soja acaba de publicar o Comunicado Técnico 110, que traz orientações detalhadas de como usar parasitoides de ovos, conhecidos popularmente como “vespinhas”, para manejar lagartas nas culturas de soja e milho.

 

Os parasitoides de ovos são nada mais do que algumas espécies de insetos, que seus adultos, de vida livre, vão depositar seus ovos dentro de ovos de outras espécies de insetos (ovos das pragas) (Figura 1). Esse ovo do parasitoide, dentro do ovo da praga, vai dar origem a uma pequena larva que vai literalmente “comer o ovo da praga por dentro”, matando esse ovo da praga. Isso vai impedir que uma nova praga possa emergir do ovo que foi parasitado e morto pelo parasitoide, reduzindo assim o crescimento da população de pragas em campo.
 
Figura 1. Parasitoides de ovos. Telenomus remus parasitando ovos da lagarta-do-cartucho do milho, Spodoptera frugiperda (A). Ovos da lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis) parasitados por Trichogramma pretiosum (B).
 
Além de matar o ovo da praga, o ovo parasitado vai dar origem a um novo parasitoide (Figura 2), que após emergir vai parasitar novos ovos de pragas, dando continuidade ao controle biológico em campo.
Figura 2. Adulto de parasitoide de ovos emergindo de ovo da praga
Esses parasitoides de ovos ocorrem naturalmente no meio ambiente, mas muitas vezes, em quantidade insuficiente para evitar que as pragas tragam prejuízos econômicos para as lavouras. É justamente aí que entra a pesquisa científica, conduzida pela Embrapa Soja, entre outras instituições de pesquisa brasileira. A pesquisa científica buscou o desenvolvendo de metodologias para que esses insetos “do bem” (parasitoides de ovos) possam ser criados massivamente em verdadeiras biofábricas e, posteriormente, liberados no ambiente, para que de forma mais rápida e eficiente, a população das pragas alvos dessa tecnologia possa ser controlada nas lavouras, reduzindo ou até mesmo eliminando o uso de inseticidas químicos.
No manejo de lagartas de importância econômica para as culturas da soja e milho, duas espécies de parasitoides de ovos são mais promissoras e mais pesquisadas pelos cientistas que são Trichogramma pretiosum (Figura 3) e Telenomus remus (Figura 4), com vantagens e desvantagens em cada uma delas, que é discutido em mais detalhes no Comunicado Técnico 110. 
Figura 3. Ciclo biológico do parasitoide de ovos Trichogramma pretiosum parasitando ovos de Anticarsia gemmatalis (lagarta-da-soja)
Figura 4. Ciclo biológico do parasitoide de ovos Telenomus remus parasitando ovos de Spodoptera frugiperda (lagarta-do-cartucho).
Entretanto, para que esses parasitoides de ovos criados em laboratórios e liberados na natureza tenham sucesso no manejo de pragas, são necessários alguns cuidados importantes, destacando-se a importância que os parasitoides de ovos sejam sempre usados em áreas que tenham a adoção do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Como é um organismo vivo que está sendo liberado na lavoura, a adoção do MIP permite um ambiente mais equilibrado, devido a um uso racional de inseticidas químicos que é aplicado apenas quando realmente necessário, sempre priorizando aqueles produtos mais seguros e menos impactantes aos organismos benéficos. Por exemplo, a adoção do MIP-Soja permite a redução no uso de inseticidas químicos em lavouras de em até 50%, como mostrado em resultados obtidos no estado do Paraná em projetos em parceria entre a Embrapa Soja e o IDR-Paraná. Além disso, a aplicação de inseticidas mais modernos e seguros ao meio ambiente, usados apenas quando realmente forem necessários, irá evitar que os parasitoides de ovos liberados sejam totalmente exterminados por inseticidas químicos sintéticos tóxicos e ultrapassados que possam ser erroneamente aplicados na lavoura quando o MIP-Soja não é adotado.
A utilização de parasitoides de ovos em lavouras de soja e milho é uma alternativa viável importante e disponível ao agricultor brasileiro que pode ser utilizada em campo com sucesso. A utilização desses parasitoides de ovos pode ser até uma estratégia importante para o manejo de algumas pragas resistentes a outras tecnologias de controle, evitando prejuízos econômicos e reduzindo o uso de inseticidas químicos. Resistência de populações de algumas espécies de lagartas às proteínas Bts expressadas nas plantas transgênicas cultivadas ou mesmo resistência a algumas moléculas químicas vem sendo observadas em campo, o que acarreta maior uso de inseticidas químicos. Portanto, o uso de parasitoides de ovos dentro do MIP vai reduzir o uso desses inseticidas químicos, aumentando a vida útil das ferramentas de controle de pragas hoje existentes, trazendo grandes benefícios para produção de alimentos e preservação do meio ambiente.

 

Fonte: https://blogs.canalrural.com.br/embrapasoja

Fale conosco