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Até quando devo controlar percevejos em soja? Aplicações no final do ciclo devem ser adotadas?

O momento correto para controlar os percevejos na soja, conhecido como “nível de ação” ou “nível de controle”, é de 2 percevejos (ninfas maiores que 0,5 cm e adultos) por pano-de-batida (metro) para lavouras destinadas à produção de grãos. O nível de ação deve ser adotado entre os estádios fenológicos R3 e R6 do desenvolvimento da soja. Sendo assim, aplicar inseticidas para controle de percevejos no final do ciclo (estádios de desenvolvimento R7 ou R8) é totalmente desnecessário e não traz nenhum retorno financeiro ao sojicultor.
O estádio R7 é o início da maturação (quando se observa uma vagem com coloração de madura na haste principal da planta). O estádio R8 é a maturação plena, quando mais de 95% das vagens tem coloração de madura.

A aplicação de inseticidas no final do ciclo da soja (R7 e R8) somente aumenta os custos de produção em uma safra já tão desafiadora como essa, além de agravar o problema de seleção de populações de percevejos resistentes aos inseticidas utilizados. A ocorrência de populações resistentes de percevejos é um dos maiores desafios enfrentados por nossos sojicultores no manejo dessa praga na atualidade. Então, usar inseticidas apenas quando necessário é bom para todos! Ganha o produtor, economizando na produção e retardando a seleção de populações resistentes, ganha o meio ambiente que tem menor risco de contaminação e ganha também o consumidor que terá seu alimento produzido com menor uso de inseticidas químicos.

A Embrapa Soja estudou, e ainda estuda em detalhes, o ataque de percevejos na cultura da soja, monitorando de perto a confiabilidade e a segurança desses níveis de ação. Então, essa orientação (nível de ação) pode e deve ser adotada sem qualquer “medo” ou “restrição” por parte de nossos agricultores, propiciando um uso racional e mais sustentável de inseticidas químicos no manejo dessa praga em campo. Quando avaliamos alguns artigos científicos sobre o assunto (Figura 1), podemos observar que a produtividade da soja com populações mais altas durante o estádio de desenvolvimento R7 e R8 não teve sua produtividade significativamente impactada. Mesmo populações de até 5 percevejos por metro no R7 não reduziram a produtividade quando comparado a soja com população de 1,5 percevejo/metro (experimento da safra 2011/12 na Figura 1). Portanto, não há nenhum indicativo até o momento de que seja necessário controlar percevejos no final do ciclo da soja (nos estádios R7 e R8).

Figura 1. Produtividade da soja (Kg/ha) em diferentes populações de percevejos nos estádios de desenvolvimento R7 e R8. Médias (±Erro Padrão da Média) seguidas pela mesma letra não diferem entre si dentro do mesmo ensaio realizado. Fontes: Bueno et al. (2015) e Hayashida et al. (2023), artigos científicos publicados na Revista Internacional Crop Protection.

Além de não aumentar a produtividade, é importante destacar o maior gasto econômico e maior risco ambiental decorrentes da maior utilização de químicos que acontece quando aplicamos inseticidas em excesso, fora da recomendação oficial. Note que no experimento realizado durante a safra 2010/11, por exemplo, foram necessárias 6 aplicações de inseticidas para se manter uma população próxima de zero percevejos no R7/R8 comparado com a área de maior infestação da praga (2,7 percevejos/metro) que adotou o MIP-Soja e aplicou inseticidas para controle de percevejos apenas 2 vezes na safra (Figura 1).

A segurança dos níveis de ação de percevejos e do MIP-Soja, de forma geral, vão muito além do que já foi exaustivamente provado em trabalhos científicos, sendo também observado em levantamentos de campo, realizados em lavouras comerciais no estado do Paraná. O MIP-Soja vem sendo adotado pelos sojicultores paranaenses por muitos anos e tendo os resultados obtidos devidamente registrados, analisados e publicados desde a safra 2013/14. Este trabalho é fruto de um esforço conjunto do Governo do Estado, por meio do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), em parceria com a Embrapa Soja, bem como com a participação de vários agricultores que disponibilizam suas lavouras de soja a cada safra para demonstrar os benefícios da adoção do MIP-Soja e os níveis de ação recomendados para controle de pragas (Tabela 1).

Nos resultados obtidos, detalhados na tabela 1, podemos observar que os agricultores que adotaram o MIP-Soja, e consequentemente, respeitaram os níveis de ação para iniciar o controle de pragas, reduziram a carga total de inseticidas aplicados em 52,1%, em média, ao longo desses nove anos do projeto, em comparação com os agricultores que não adotaram o MIP (sem-MIP) (de 2013/14 a 2021/22). A redução no uso de inseticidas variou de 44,7% (2015/16) a 68% (2021/22).

É importante notar ainda que as reduções no uso de inseticidas não provocaram perda de rendimento, o que é uma das maiores preocupações de muitos agricultores. Pelo contrário, devido a um melhor manejo de pragas propiciado pela aplicação de inseticidas na hora certa, as lavouras de soja que adoram o MIP e respeitaram os níveis de ação tiveram maior produtividade de soja que foi, em média, 65,7 kg por ha superior às áreas em que o MIP não foi adotado (variando de 144 kg/ha em 2015/16 a 12 kg/ha em 2021/22). Além da maior produtividade é importante destacar os menores custos de controle de pragas, que foram calculados e transformados para seu valor equivalente expresso em kg de soja por ha para cada safra. De acordo com estes cálculos, o custo de controle de pragas variou de 60 kg/ha (2020/21) a 157,2 kg/ha (2013/14) mais baixo para lavouras que adoram MIP e seus níveis de ação, em comparação com os campos que aplicaram mais inseticidas. Assim, a adoção do MIP-Soja resultou em um lucro maior médio de 177,6 kg/ha (111,9 kg/ha de redução de custos de controle de pragas + 65,7 kg/ha de aumento na produtividade da soja) para áreas com MIP-Soja, em comparação com áreas sem a adoção do MIP (Tabela 1). Isso demonstra certamente que adotar o MIP-Soja e seus níveis de ação recomendados é mais eficiente e barato, proporcionando maior lucratividade ao sojicultor, além de maior segurança e proteção ao ambiente.

Infelizmente, alguns técnicos ou produtores acabam utilizando de aplicações de inseticidas para controle de percevejos no final do ciclo da soja (R7 ou R8), muitas vezes, com o objetivo de reduzir a população de percevejos na cultura do milho, que ocorre na sequência da soja, cultivada na segunda-safra agrícola. Mas será então que controlar percevejos no final do ciclo da soja reduz a população de percevejos que ataca o milho na segunda-safra?

 

Estratégias de manejo de percevejos para fase inicial e de implantação da cultura do milho de segunda-safra

Aplicar inseticidas no final do ciclo da soja cultivada na primeira safra para controlar os percevejos que vão atacar a cultura do milho na segunda-safra agrícola certamente não é a estratégia mais eficiente no manejo desta praga. Os percevejos que atacam a soja não são necessariamente os mesmo que atacarão o milho. Além disso, como podemos observar na última safra, tivemos uma área cultivada com soja de aproximadamente 44 milhões de hectares que depois foram reduzidos para pouco mais de 15 milhões de hectares cultivados com milho segunda-safra (Figura 2). Sendo assim, mesmo que você consiga controlar os percevejos na soja no final do ciclo, certamente muitos outros percevejos de outras áreas poderão migrar para sua lavoura visto que há uma considerável redução de área cultivada com esses grãos da primeira para a segunda safra, o que provavelmente leva a uma concentração dos percevejos no milho segunda-safra.

Figura 2. Áreas cultivadas com soja (safra 2022/23) e milho segunda-safra (2023) no Brasil.

 

Se controlar os percevejos no final do ciclo da soja não é uma medida eficiente de manejo, o que podemos fazer para reduzir o ataque inicial de percevejos no milho cultivado na segunda-safra? Antes de responder essa pergunta é importante relembrar que a espécie de percevejo mais comum na soja é o percevejo-marrom (Figura 3A) que não causa danos significativos no milho e por isso não precisa ser controlado nesta cultura. O percevejo que devemos nos preocupar (e controlar quando necessário) no milho é o percevejo-barriga-verde (Figura 3B). A identificação das espécies não é difícil: a coloração do abdômen é mais esverdeada no percevejo-barriga-verde (seta azul) em qual também observamos entre as antenas a presença de proeminências pontiagudas em forma de “V” (seta-vermelha) (Figura 3C a esquerda). Já no percevejo-marrom, o abdômen é mais amarronzado e, entre as antenas, a cabeça tem o formato arredondado (Figura 3C a direita).

Figura 3. Percevejo-marrom (A) e percevejo-barriga-verde (B) e as diferenças principais entre as duas espécies (C).

 

Para reduzir a ponte-verde entre as culturas da soja e milho (Figura 2) as melhores alternativas são:

1) Colher a soja no limpo. A presença de plantas-daninhas hospedeiras do percevejo como a trapoeraba, por exemplo, no final do ciclo da soja, servem de alimento e substrato para oviposição de percevejos, facilitando a ponte-verde e a infestação do milho na segunda-safra;

2) Reduzir perdas na colheita da soja. Os grãos de soja caídos no chão além de um desperdício de dinheiro, quando muito umedecidos no solo podem servir de alimento para o percevejo e também facilitar a ponte-verde entre as culturas, e promover uma maior infestação de percevejos no milho;

3) Utilizar o tratamento de sementes no milho. Quando a infestação de percevejos estiver alta no final do ciclo da soja (principalmente com a presença do percevejo-barriga-verde).

A aplicação na soja não se mostra eficiente, portanto, é muito melhor economizar essa aplicação e usar sobre o milho se as 3 alternativas anteriores não forem o suficiente para o manejo.

Por isso, faça o certo e controle pragas apenas quando necessário. Adote os níveis de ação indicados pela Embrapa. É mais seguro, mais eficiente e barato. O meio-ambiente e o seu bolso vão agradecer!

 

Fonte: https://blogs.canalrural.com.br/embrapasoja

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