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O papel da Embrapa no melhoramento genético de soja

Mônica Juliani Zavaglia Pereira, pesquisadora da Embrapa Soja

Do mesmo modo que as caravelas do descobrimento, a soja chegou no Brasil pela Bahia, no ano de 1882, introduzida pela Escola de Agronomia da Bahia. O primeiro registro de plantio comercial da leguminosa data de 1912, em Santa Rosa, RS. Porém somente na década de 1940 a “nova” cultura teve alguma importância comercial, sendo que em 1949 o Brasil aparece pela primeira vez nas estatísticas internacionais de semeadura do grão. A partir da década de 1960, a soja entrou definitivamente no cenário agrícola nacional e, já no final da década de 1970, tornou-se a principal commodity produzida no Brasil, alcançando status de exportação posteriormente. Essa importância se mantém até os dias atuais.

Um grande avanço no melhoramento genético nacional da soja se deu com a criação do Centro Nacional de Pesquisa de Soja (Embrapa Soja), em Londrina, PR, em 1975, vinculado à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Nessa época envolvendo diversas instituições de pesquisa públicas estaduais, federais e universidades, implantou-se o Programa Nacional de Soja, estabelecendo as prioridades de pesquisa, os desafios e as oportunidades, alavancando de vez a sojicultura nacional.

Na época, a soja ainda estava bastante concentrada no Sul do Brasil, região onde obteve melhor adaptação e, desta forma, os esforços em pesquisas públicas foram no sentido de adaptar a soja à praticamente todas as regiões do Brasil, investindo em tecnologias, manejo do solo e da cultura e melhoramento genético, processo esse que foi liderado pela Embrapa. Esses investimentos em pesquisa culminaram na “tropicalização da soja”, possibilitando, pela primeira vez na história, que o grão fosse semeado em regiões de baixas latitudes, entre o Trópico de Capricórnio e a Linha do Equador (Figura 1).

 

Se na década de 1970, o Brasil, como importador de alimentos, ficava em situação que o deixava vulnerável em relação a outros países e em fragilidade em relação à sua segurança alimentar, hoje essa situação é completamente diferente. Esses avanços possibilitaram que nas últimas 4 décadas o Brasil se tornasse um dos maiores produtores de alimentos no mundo. O maior em regiões tropicais.

A Embrapa vem atuando no mercado de sementes de soja desde a sua criação. Possui um programa de melhoramento genético forte e competitivo, lançando cultivares adaptadas à diferentes regiões sojícolas brasileiras todos os anos, nas diversas plataformas de transgenia presentes no mercado (soja RR, Intacta RR2 Pro, Intacta 2 Xtend e Xtend), além de manter um programa de melhoramento de soja convencional bem sucedido há décadas. O acesso ao mercado se dá por meio das parcerias (Fundação Meridional, Fundação Cerrados, Fundação Bahia, Caramuru Alimentos) e por oferta pública de sementes, via edital.

Dentre as principais características associadas às cultivares de soja Embrapa (BRS) estão a resistência às principais doenças que incidem sobre a cultura (cancro-da-haste, mancha olho-de-rã, oídio, vírus do mosaico comum da soja, ferrugem asiática), resistência aos nematoides de galhas (Meloidogyne javanica e M. incognita) e cisto (Heterodera glycines), resistência à podridão radicular de Phytophtora, tolerância à percevejos.

No que diz respeito à ferrugem asiática da soja (Phakopsora pachyrhizi), as cultivares BRS com genes de resistência são identificadas como Tecnologia Shield®, proporcionando uma proteção extra para o produtor e aumentando as margens de segurança de manejo em situação de ocorrência da doença. Acesse o site e tenha mais informações sobre a Tecnologia Shield® https://www.embrapa.br/soja/shield.

Outra tecnologia lançada pela Embrapa, em benefício do produtor, é a Tecnologia Block®, que é uma linha de cultivares de soja tolerantes aos percevejos, visto que essas pragas representam entre 50% e 60% de todo o inseticida aplicado na soja. O uso de cultivares Block® proporciona maior proteção e auxilia no manejo tão desafiador dessa praga. O site https://www.embrapa.br/soja/block apresenta maiores detalhes sobre a tecnologia.

Vale ressaltar que as Tecnologias Block® e Shield® não possuem cobrança de royalties e a Block® é uma exclusividade da Embrapa no mercado.

Além dessas resistências, as cultivares de soja BRS possuem elevado potencial produtivo, estabilidade de produção, alto desempenho agronômico e ciclos adaptados aos diversos sistema de cultivo e regiões edafoclimáticas brasileiras. A Embrapa possui em seu catálogo a cultivar ideal que o agricultor necessita para cada situação de cultivo.

É também de responsabilidade da Embrapa Soja, a manutenção e conservação de um dos maiores bancos ativos de germoplasma (BAG) de soja do mundo, com mais de 65 mil acessos, introduções, cultivares e espécies selvagens em sua coleção. Esse patrimônio nacional é fundamental como fonte de resistência às pragas e doenças, teor de proteínas e ácidos graxos e como fonte de diversidade genética para variadas características agronômicas, ou seja, na solução de problemas já existentes, e principalmente de problemas futuros. Esse e vários outros bancos de germoplasma mantidos pela Embrapa possuem valor inestimável, pois mantém e conservam a biodiversidade genética das espécies tanto vegetais como animais e de microrganismos. Esse trabalho de conservação é importantíssimo do ponto de vista da evolução, manutenção e melhoramento das espécies.

A importância da participação da Embrapa no melhoramento genético não se dá apenas para a cultura da soja. Inúmeras outras culturas (commodities ou não) são foco de pesquisa e desenvolvimento pela empresa. Como exemplos, podemos citar: algodão, trigo, cana-de-açúcar, arroz, feijão, milho, girassol, cevada, lentilha, várias forrageiras, brachiaria, abóboras e morangas, tomate, melão, goiaba, manga, guaraná, abacaxi, mamão, banana, acerola, pupunha, uva, maçã, melancia, mirtilo, açaí, cupuaçu, citros, amendoim, batata, mandioca, pimentas, café, eucalipto, araucária, seringueira, castanha do brasil, pinus, bovinos de corte e leiteiros, caprinos de corte e leiteiros, ovinos de corte e leiteiros, suínos, aves, entre inúmeras outras.

Muitas dessas culturas não são de interesse da iniciativa privada em manter um programa de melhoramento genético ou mesmo originar tecnologias de manejo, mas são culturas de importância social, econômica e estratégica para o país, e sendo assim, a Embrapa está e continuará gerando tecnologia de ponta para todas as atividades ligadas ao agronegócio brasileiro, seja ele realizado por pequenos, médios ou grandes produtores rurais.

Fonte: https://blogs.canalrural.com.br/embrapasoja

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