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Armazenamento do grão de soja

Pesquisadores da Embrapa Soja Francisco Carlos Krzyzanowski  e Marcelo Alvares de Oliveira e o consultor Irineu Lorini 

O comportamento do grão de soja durante o período de armazenamento está diretamente relacionado à sua qualidade física, que é caracterizada pela integridade do grão quanto aos danos mecânicos, oriundos do processo de colheita e de transporte nas unidades armazenadoras. Os danos mecânicos resultam em grãos partidos (bandinhas), quebrados, trincados e com microfissuras, que são pequenas dilacerações no tegumento (casca).

Como o grão é higroscópico, ele tende a trocar umidade com o ar ao seu redor em função da temperatura e da umidade relativa do ar do ambiente de armazenamento. Portanto, dependendo das condições, poderá perder como ganhar umidade. O grau de umidade aceito sem desconto na recepção do grão na moega das unidades armazenadora é de 14%, mas o grau de umidade seguro para o armazenamento fica abaixo de 13%. Nos grãos intactos, sem danos, o tegumento controla a entrada e saída da umidade e de gases, mantendo a assepsia interna do grão, evitando a sua deterioração.

Para se obter uma boa aeração é necessário avaliar cuidadosamente alguns parâmetros como a umidade dos grãos, teor de impurezas, a compactação da massa e condições climáticas locais, que irão interferir diretamente no controle da operação. A realização da pré-limpeza dos grãos em máquinas apropriadas é importante para reduzir a quantidade de impurezas, portanto, reduzindo a umidade da massa de grãos e melhorando a passagem do ar e a eficiência do processo de aeração. Associado à aeração, um sistema de termometria eficiente para controle de temperatura da massa de grãos dentro do silo é um fator que interfere diretamente na qualidade do produto armazenado. Os sistemas de termometria indicam a temperatura por meio de sensores distribuídos na massa de grãos armazenados. O uso de sistemas de termometria é muito importante para que os armazenadores de grãos acompanhem a temperatura dentro dos silos.

O aumento de temperatura nas horas mais quentes do dia causa problemas no armazenamento, já que promove o fenômeno da condensação de água sobre a massa de grãos durante as horas mais amenas. A massa de ar quente faz a umidade contida nos grãos evaporar, por conta do equilíbrio higroscópico. Quando a água em forma de vapor condensa (nas horas com temperaturas mais amenas), volta ao estado líquido, goteja sobre os grãos, causando, principalmente, a deterioração superficial da massa de grão. Outra tecnologia importante que deve ser associada a esses sistemas é a exaustão natural, visto que, dependendo das condições psicométricas, não é viável economicamente a utilização do sistema de aeração, pois geralmente promove um aquecimento do ar, secando o produto. Assim sendo, um armazenamento adequado vai garantir que o grão de soja tenha a qualidade do óleo e da proteína preservados.

Grãos avariados, esverdeados, partidos, quebrados, trincados e com microfissuras têm uma interferência direta na qualidade do óleo presente nesses grãos. O contato direto com o oxigênio leva à oxidação do óleo no interior do grão, acarretando diretamente no aumento do índice de acidez desse óleo. Essa acidez tem que ser neutralizada para a estabilidade do óleo durante o processo de refino, reduzindo a acidez, cor e odor do óleo a ser extraído dos grãos de soja, o volume de recursos gastos pela indústria para reduzir esta acidez para o nível exigido comercialmente poderá chegar a alguns milhões de dólares anuais.

A qualidade dos grãos de soja na armazenagem também pode ser afetada pelas pragas de armazenamento, em especial os besouros Lasioderma serricorneOryzaephilus surinamensis e Cryptolestes ferrugineus, e as traças Ephestia kuehniella e E. elutella, que podem ser responsáveis pela deterioração física dos grãos. As pragas em soja armazenada representam uma preocupação dos armazenadores, porque os estoques de grãos permanecem por mais tempo no armazém, sujeitos ao ataque das pragas. A migração de insetos é facilitada pelo armazenamento de outros grãos na mesma unidade armazenadora e os compradores de grãos não toleram qualquer praga no momento de receberem o grão.

A integração de diferentes métodos de controle é prática essencial para se obter sucesso na supressão de pragas de grãos armazenados. Os métodos físicos, que antecederam os químicos no controle de pragas no passado, devem ser retomados e adequados ao uso presente e futuro. Essas táticas, que consistem no Manejo Integrado de Pragas de Grãos Armazenados, associadas a medidas preventivas e curativas de controle de pragas, permitirão ao armazenador manter o produto isento de insetos, evitando perdas quantitativas e mantendo a qualidade de comercialização e de consumo do produto. Assim sendo, esses são os principais pontos a serem observados para a preservação da qualidade do grão de soja armazenado, garantindo uma matéria-prima de qualidade para toda a cadeia.

Fonte: https://blogs.canalrural.com.br/embrapasoja

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