ÚLTIMAS NOTÍCIAS
A integração lavoura-pecuária é estratégica para a agropecuária brasileira

Alvadi Antonio Balbinot Junior, pesquisador da Embrapa Soja

Dados de levantamento realizado em 2020 apontam que o Brasil possui, aproximadamente, 17,4 milhões de hectares (ha) manejados em alguma modalidade de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), sobretudo integração lavoura-pecuária (ILP) (Figura 1). Os estados com maiores áreas são: Mato Grosso do Sul (3,2 milhões ha), Mato Grosso (2,3 milhões ha) e Rio Grande do Sul (2,2 milhões ha) (Polidoro et al., 2020). Para se ter uma ideia da evolução da ILPF no Brasil, em 2016 a área estimada era de 11,5 milhões ha. Não obstante à expressiva área com ILPF no Brasil, ainda temos muito a crescer, nas cinco regiões brasileiras, uma vez que os sistemas integrados bem manejados conferem sinergias que permitem a intensificação sustentável – aumento da produtividade de alimentos, fibras e bioenergia por área, conciliada à conservação dos recursos naturais. A ILP permite o atendimento de fundamentos do Sistema Plantio Direto (SPD): 1) alta diversificação de espécies cultivadas, uma vez que possibilita o cultivo rotacionado ou consorciado de espécies forrageiras e grãos; 2) cobertura permanente do solo por plantas ou palha, com crescimento vigoroso de raízes; nesse caso as pastagens contribuem muito na formação de palha e estruturação do solo para implantação de culturas graníferas em sucessão; e 3) baixo revolvimento/mobilização do solo. Ou seja, há convergência plena de funcionalidades biológicas e econômicas entre a ILP e o SPD.

A intensidade de emissões de gases de efeito estufa é um tema cada vez mais presente na agricultura mundial, sendo que a ILP pode contribuir significativamente para reduzir as emissões, uma vez que permite: 1) a manutenção ou o aumento dos estoques de carbono orgânico no solo, retirando-o da atmosfera; 2) o aumento da produtividade por área em determinado tempo; e 3) a racionalização do uso de insumos, cuja produção, distribuição e aplicação geram emissões de gases de efeito estufa. Ainda no campo ambiental, a conservação do solo e da água será cada vez mais exigida pela sociedade. Neste cenário, a ILP conduzida de forma recomendada permite a conservação de recursos indispensáveis à humanidade, principalmente em função do aumento da taxa de infiltração estável, da proteção do solo com plantas ou palha, o que resulta em redução da erosão e aumento da eficiência do uso da água.

No Brasil é necessário dar destaque ao grande potencial da ILP em solos de textura arenosa ou média, em regiões tropicais. No país, há vasta disponibilidade de áreas com baixos teores de argila – inferiores a 20% – e altos teores de areia. Essa condição física do solo determina baixa capacidade de retenção de água, carbono orgânico e nutrientes e alta suscetibilidade à erosão. Aliado a isso, em geral, as áreas arenosas onde ocorre a expansão de culturas de grãos se encontram em regiões quentes, com alta evapotranspiração. Assim, há convergência de dois fatores: o solo retém pouca água e o consumo desse recurso é alto. Em relação à matéria orgânica, é o mesmo raciocínio, pois há necessidade de acumular material orgânico no solo para melhorar os atributos físicos, químicos e biológicos, mas o ambiente é quente, o que acelera a decomposição da matéria orgânica. Isso impõe um grande desafio ao manejo do sistema de produção nessas áreas para permitir o cultivo de grãos com viabilidade econômica. Uma das estratégias mais promissoras e rentáveis é a integração de culturas, como a soja, o milho e o sorgo com pastagens, especialmente formadas por espécies de braquiária e cultivares de panicum.

Um dos gargalos para o aumento da utilização da ILP, ou do aprimoramento do sistema já implantado, é a capacitação de técnicos, uma vez que são sistemas que demandam maior aporte de conhecimentos, relacionados a solos, culturas de grãos, forrageiras, animais e gestão do negócio. Nesse sentido, a oferta de cursos teóricos e práticos é essencial para o aumento da adoção de sistemas integrados, conectando os avanços da pesquisa com a realidade das propriedades rurais. Nesse âmbito, uma importante parceria que se inicia é a organização de um curso sobre sistemas integrados pelo Senar/PR e a cooperativa Cocamar, com apoio da Embrapa, IDR-Paraná e Rede ILPF, a ser ministrado inicialmente para técnicos da Cocamar. A abertura oficial do curso ocorreu no último dia 30 de março, em Maringá, PR. Pesquisadores da Embrapa ministrarão parte do curso, abordando principalmente temas relacionados ao manejo do solo, da cultura da soja e de pastagens, bem como o emprego de tecnologias digitais na ILP.

Fonte: https://blogs.canalrural.com.br/embrapasoja

Fale conosco