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Como reduzir perdas na colheita da soja

Francisco Carlos Krzyzanowski, José Miguel Silveira, José de Barros França-Neto, Fernando Augusto Henning, pesquisadores da Embrapa Soja

 A colheita constitui uma importante etapa na produção de soja, principalmente para evitar os riscos climáticos no campo, a que está sujeita a lavoura destinada à produção de grãos para consumo. Portanto, para reduzir perdas na colheita de soja, é importante considerar o planejamento da lavoura mesmo antes de sua semeadura. É importante escolher as cultivares recomendadas para a região, considerando o ciclo de desenvolvimento de cada uma e suas épocas de semeadura, objetivando a distribuição da maturação no tempo, visando, assim, evitar uma alta concentração de materiais maduros num único período. Além disso, deve-se atentar para a semeadura na época certa, utilizando a população de plantas recomendada, pois esses aspectos podem influenciar na eficiência da colheita.

A semeadura da soja em época inadequada pode acarretar baixa estatura das plantas e inserção das primeiras vagens próximas ao solo. O espaçamento entre linhas e/ou a densidade de semeadura inadequadas podem reduzir o porte das plantas ou aumentar o acamamento, o que, consequentemente, refletirá em maiores perdas na colheita.

A área deve estar livre de plantas daninhas, pois, se presentes no momento da colheita, podem comprometer o desempenho da colhedora, devido ao embuchamento do maquinário. Portanto, caso necessária, a dessecação da lavoura em pré-colheita contribuirá para a eliminação das plantas daninhas, facilitando a operação da colhedora.

Os ajustes das colhedoras são primordiais, pois a falta de regulagem das mesmas contribui para perdas significativas. A velocidade de deslocamento da colhedora na faixa de 4 a 6,5 km/h é a recomendada para a maioria dos equipamentos para evitar perdas excessivas e a quebra de grãos. O monitoramento do grau de umidade dos grãos é também importante, pois é na faixa de 13% a 15% em que ocorrem os menores índices de quebras de grãos na operação de trilha, ocorrendo uma redução no porcentual de grãos partidos ou quebrados, o que contribui para a qualidade do grão no processo de armazenamento. A pontualidade da colheita deve ser levada em conta, devendo ser iniciada tão logo a soja atinja o estádio de ponto de colheita (R8), a fim de evitar perdas quantitativas e qualitativas de produto no campo.

Para reduzir perdas, é necessário que se conheçam as suas causas, sejam elas físicas ou fisiológicas. A seguir, são abordadas algumas causas “indiretas” de perdas na colheita.

A irregularidade da superfície do terreno pode promover a perda de grãos de soja na colheita, principalmente por interferir na altura de corte das plantas. Quando o micro relevo for muito irregular e a barra de corte, mesmo flexível, não consegue acompanhar o contorno da superfície, as plantas de soja podem ser cortadas acima do ponto de inserção das primeiras vagens, resultando em perdas.

O atraso da colheita pode submeter a lavoura às chuvas inesperadas, que resultam em perdas de qualidade dos grãos, reduzindo o seu peso e a produtividade da lavoura. Por outro lado, quanto mais seca estiver a lavoura, maior poderá ser a deiscência das vagens e os níveis de quebras dos grãos. Para que não haja atrasos na colheita, há a necessidade de disponibilidade de máquinas e caminhões em número suficiente, visando obter o melhor rendimento da colheita.

A subestimação da importância econômica das perdas de grãos e a consequente falta de monitoramento (avaliação com metodologia adequada) do processo de colheita são as principais causas de ocorrência de perdas e desperdícios de grãos durante o processo de colheita da soja.

A má regulagem da colhedora, na maioria das vezes, é causada pelo pouco conhecimento do operador sobre as suas regulagens e a operação adequada. O trabalho harmônico entre o molinete, a barra de corte, a velocidade da operação e os ajustes dos sistemas de trilha, separação, limpeza e transporte é fundamental para uma colheita eficiente. A velocidade do molinete deve ser um pouco superior à da colhedora e é recomendado que o mesmo opere com seu eixo central um pouco à frente da barra de corte (de 0,15 a 0,30 m), de modo que os pentes do molinete toquem o terço superior das plantas.

Tendo em vista as várias causas de perdas que ocorrem numa lavoura de soja, os tipos ou as fontes de perdas podem ser definidos da seguinte maneira: a) perdas antes da colheita, causadas por deiscência natural ou pelas vagens caídas ao solo; b) perdas causadas pela plataforma de corte, que incluem as perdas por debulha, por altura de inserção e por acamamento das plantas na frente da plataforma; e c) perdas por trilha, separação e limpeza, constituídas pelos grãos que tenham passado pela colhedora durante a operação.

Para quantificar as perdas de grãos durante a colheita da soja, recomenda-se a utilização da metodologia do Copo Medidor desenvolvida pela Embrapa, que, ao correlacionar volume com massa, permite uma estimativa direta da produção não recolhida pela colhedora. A perda tolerável é de até uma saca de 60 kg/ha; acima deste valor considera-se como desperdício e que pode ser evitado por meio de regulagens e/ou ajustes no equipamento colhedor.

Na prática, a referida metodologia de determinação de perdas consiste, basicamente, de duas operações manuais:

1) coleta dos grãos (soltos e que estão dentro de vagens) que se encontram em uma armação de área delimitada e pré-estabelecida de 2,0 m2; atualmente, uma armação com medidas padrões de 4,0 m de largura por 0,5 m de comprimento acompanha o “Kit Perdas”, composto ainda de um copo medidor, um manual técnico e quatro pinos para a fixação da armação no solo. Armações com dimensões específicas em função da largura da plataforma de corte da colhedora podem ser construídas, de acordo com as orientações constantes do referido manual.

2) deposição dos grãos no Copo Medidor para a leitura direta em uma escala graduada em sacas/ha que representa a perda total obtida naquele ponto amostral, resultante do somatório das perdas de pré-colheita, de plataforma de corte e dos sistemas internos da colhedora.

O valor médio estimado de perdas na colheita no Brasil é de 2 sacas/ha. Reduzindo essa perda para o aceitável de até 1 sc/ha, retornará ao País o equivalente a 2,615 milhões de toneladas de grãos, o que representa cerca de 7 bilhões de reais.

 

Fontes: https://blogs.canalrural.com.br/embrapasoja

 
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