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Secas: grande desafio à cultura da soja

José Renato Bouças Farias, pesquisador da Embrapa Soja

Nas últimas quatro décadas, a despeito da incredulidade internacional, tecnologias especialmente desenvolvidas e apropriadas ao ambiente produtivo brasileiro, revolucionaram totalmente os sistemas de produção de soja. Com isso, o Brasil passou de importador a maior exportador e, num curto prazo, consolidará o País como o maior produtor mundial de soja. Hoje a soja é uma cultura com ampla adaptabilidade, sendo cultivada de norte a sul e de leste a oeste do País, nos dois lados da linha do Equador. A soja ocupa posição de destaque na modernização da agricultura brasileira, liderando as exportações do agronegócio, equilibrando a balança comercial do país e permitindo o crescimento de outros complexos agroindustriais pela agregação de valor, tais como o de carnes e o de biocombustíveis.

No entanto, dentre os fatores inerentes à produção agrícola, o clima continua aparecendo como aquele de mais difícil controle e maior ação sobre a limitação às máximas produtividades. Aliado a isto, a imprevisibilidade das variabilidades climáticas confere à ocorrência de adversidades climáticas o principal fator de risco e de insucesso à exploração da cultura. As perdas ocasionadas pelas ocorrências de estiagens e secas talvez sejam hoje, e no futuro próximo, o principal desafio para a produção de grãos. Prejuízos econômicos relacionados ao clima têm apresentado tendência crescente nos últimas décadas. Eventos de seca têm aumentado nos últimos anos. E para agravar, evidências científicas, cada vez mais consistentes, têm advertido para anomalias na temperatura e nos padrões de precipitação, com consequências diretas nas atividades humanas e, especialmente, naquelas relacionadas à produção agrícola. Previsões científicas indicam que extremos climáticos tenderão a aumentar, incluindo secas mais frequentes, severas e prolongadas.

A região Sul, responsável por significativa parcela da produção nacional de soja, é a que tem mais sofrido. Para exemplificar, a seca ocorrida no Rio Grande do Sul na safra 2004/2005, promoveu perdas de quase 75% da sua produção esperada de soja. Ou seja, colheram, em média em todo o estado, apenas 700kg/ha, enquanto esperavam colher próximo a 2.700kg/ha. Na safra 2021/2022, também assolada por severa seca, novamente toda a região Sul foi prejudicada, com perdas médias na casa dos 50%. E agora, na safra 2022/2023, estão sendo previstas perdas significativas em algumas regiões. Se consideradas, ainda, as perdas indiretas relacionadas a todo agronegócio dependente da soja e a economia das regiões produtoras de grãos, os prejuízos certamente são bem maiores. As implicações são enormes uma vez que, não somente produtores, mas toda a sociedade é atingida.

A magnitude desse fenômeno implica, entre outros, em necessidade de novas e combinadas estratégias que visem mitigar ou minimizar os impactos ocasionados pela seca. Destacam-se os avanços no melhoramento genético, práticas de manejo conservacionista do solo e da água (preservação de nascentes, rios e margens de rios; adoção de sistema plantio direto; diversificação de culturas; etc.); zoneamento agrícola de risco climático; procedimentos para incrementar a fertilidade de solos ácidos e pobres em nutrientes, dentre outras tecnologias. Além disto, cabe ao produtor “fazer bem feito o que tem que ser feito”: utilizar cultivares adaptadas à região e condição de solo; observar o posicionamento fitotécnico de cultivares; se possível, escalonar época de semeadura e/ou diversificar cultivares (com ciclos diferentes); proceder a semeadura de forma adequada, com sementes de boa qualidade e com boa umidade em todo o perfil do solo; adequado manejo fitossanitário, dentre outras. O volume de água necessário à cultura pode ser suprido pela chuva (principal fonte para a produção brasileira de soja), irrigação e/ou armazenamento de água pelo solo. Apesar de eficazes, poucos são os agricultores que dispõem de sistemas de irrigação para suplementar a demanda de água pela cultura.

Com toda certeza, em pouco tempo, à água será o insumo mais importante em nosso planeta. Muitas atividades e até mesmo a própria vida humana dependem da água. Então, não é uma questão que interessa apenas ao produtor rural, mas sim à toda sociedade. Conhecimentos e ferramentas que venham a contribuir para a redução dos riscos de insucesso, ao uso racional e à maior eficiência no uso da água e dos recursos naturais, são fundamentais para superar tais desafios e garantir a produção de alimentos de forma sustentável (econômica, social e ambientalmente).

 

 

Fonte: https://blogs.canalrural.com.br/embrapasoja/2023/03/16/secas-grande-desafio-a-cultura-da-soja/

 
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