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Girassol: oportunidade para segunda safra de grãos

Regina Maria Villas Bôas de Campos Leite, pesquisadora da Embrapa Soja

O cultivo do girassol é uma opção de diversificação nos sistemas de sucessão e rotação nas regiões produtoras de grãos no Cerrado brasileiro, como cultura de segunda safra. Nessas regiões, ainda é possível aproveitar o final das chuvas para semear o girassol, em função da maior capacidade de desenvolvimento radicular e outros mecanismos de tolerância ao estresse hídrico. O girassol é reconhecido por beneficiar a cultura em sucessão, pela baixa capacidade de exportação de nutrientes pelos grãos e, em especial o potássio (K), em função do profundo sistema radicular, as plantas conseguem explorar grande volume de solo, absorvendo nutrientes que já estavam fora do alcance de outras culturas, como por exemplo o K, que é em solos mais arenosos tem maior possibilidade de lixiviação.

O girassol é cultivado no mundo principalmente como fonte de óleo comestível, com sabor suave, coloração dourada e alto valor nutricional. Considerando as culturas de grãos, o óleo de girassol é o terceiro mais consumido no mundo e um dos mais apreciados na culinária. No mercado brasileiro, existem dois tipos de óleo refinado de girassol: o tradicional, com teor normal de ácido oleico e rico em ácido linoleico e o tipo alto oleico, com teor de ácido oleico por volta de 80%, muito similar ao azeite de oliva. O consumo regular de óleo com alto teor de ácidos graxos insaturados na dieta pode auxiliar na redução do LDL-colesterol (mau colesterol). Teores elevados de ácido oleico conferem adicionalmente aos óleos vegetais maior estabilidade oxidativa durante os processos de refino e de estocagem, bem como na sua utilização na indústria alimentícia ou em frituras.

O girassol é famoso não só pela qualidade do óleo; é também, fonte de proteínas para alimentação animal na forma de farelo ou na composição de rações e como silagem, com grande aceitação em sistemas de produção integrados. Na alimentação humana, os grãos podem ser utilizados para confeitaria ou consumidos torrados, comum em muitos países, sendo uma boa fonte de proteínas, fibras, flavonoides, vitamina E, zinco, ferro, entre outros. Um mercado bastante conhecido é o de grãos para alimentação de pássaros, que prefere grãos rajados de preto e branco, pela maior facilidade dos pássaros separarem as amêndoas das cascas. Existe a possibilidade de produção integrada de mel de excelente qualidade, uma vez que a flor de girassol é bastante atrativa para abelhas. Apesar de ser originário da América do Norte, com sua introdução no velho mundo, principalmente pela beleza das flores e posterior domesticação, a expansão mais significativa do seu cultivo ocorreu na Europa, principalmente nos países do Leste Europeu, como cultura fornecedora de óleo comestível. No entanto, face a qualidade do óleo, a produção disseminou-se pelos outros continentes.

Nas últimas safras, Rússia e Ucrânia se destacam como os líderes globais da produção da oleaginosa. A Ucrânia foi responsável por 26% da produção mundial de grãos em 2020. Os dois países somaram 53% da produção de óleo de girassol do mundo na safra 2021/2022, que é exportado para diversos países da Europa e Oriente Médio. O conflito Rússia-Ucrânia tem afetado significativamente a agricultura dos países e, consequentemente, a produção mundial de girassol. No caso da Rússia, não há indícios de interrupção das lavouras, mas as sanções internacionais trouxeram um impacto significativo nas exportações de todos os produtos russos. Já a Ucrânia, afetada diretamente pelo teatro de guerra, teve a produção de girassol severamente impactada, passando de 17,5 milhões de toneladas de grãos de girassol em 2021 para 10,5 milhões em 2022. Se as próximas safras de girassol da Ucrânia se tornarem muito comprometidas ou não puderem ser exportadas, haverá escassez dos produtos derivados do girassol em muitos países importadores ao redor do mundo.

Apesar da tragédia da guerra, isso abriria uma grande oportunidade para o mercado de países produtores emergentes, como o Brasil. Aqui, o girassol continua sendo uma lavoura de segunda safra, com área e produção aproximadas de 42 mil hectares e 60 mil toneladas de grãos, respectivamente, estimadas para a safra 2022/2023. Os estados de Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais são os principais produtores de girassol, onde geralmente é cultivado em segunda safra, após a soja. Ainda é pouco para o girassol, que conta com um gigantesco potencial de suceder o cultivo da soja, a principal cultura de grãos que ocupa, na safra principal de verão, aproximadamente 40 milhões de hectares no país.
A principal limitação para um avanço significativo da cultura no Brasil reside na falta de uma cadeia bem estruturada para absorver rapidamente o aumento da produção e de comercialização. Para poder absorver a produção gerada pela eventual expansão da área cultivada, as indústrias necessitariam ampliar seus negócios com novos mercados, principalmente o asiático e o europeu, bem como sua capacidade de processamento de grãos e farelos.

Os desafios que o girassol enfrenta no Brasil são basicamente três: oferecer aos produtores uma cultura rentável que possibilite uma segunda colheita, sobre a mesma área e no mesmo ano agrícola, com estabilidade e sustentabilidade; oferecer mais uma matéria-prima oleaginosa às indústrias de processamento de outros grãos, reduzindo sua ociosidade; e, finalmente, oferecer ao mercado um óleo comestível de alto valor nutricional e uma excelente matéria-prima para produção de ração animal. Diante do cenário descrito, o sucesso do girassol no Brasil depende obrigatoriamente do crescimento do setor agroindustrial nacional, que poderá aproveitar a oportunidade surgida com novos mercados consumidores. Ainda há um longo caminho a ser percorrido pelo girassol para que se torne uma cultura expressiva no país.

 

Fonte: https://blogs.canalrural.com.br/embrapasoja

 
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