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Ocorrência de lagarta Helicoverpa sp. em soja-Bt na safra 2022/23 e principais orientações de manejo

Adeney de Freitas Bueno, chefe de P&D da Embrapa Soja

Depois dos relatos de ocorrência da broca-das-axilas em soja-Bt, agora é a vez da lagarta do gênero Helicoverpa. A Embrapa Soja tem recebido notificações da ocorrência de Helicoverpa sp., principalmente em área de soja-Bt de primeira geração, que expressa a proteína inseticida Cry1Ac. Essa ocorrência de lagartas, de forma mais geral, tem sido favorecida em locais mais quentes e secos, devido alguns veranicos que têm sido registrados nessas localidades. Com a normalização das chuvas, a população da praga tende a ser reduzida naturalmente, mesmo sem a aplicação de quaisquer inseticidas químicos.

Na soja cultivada no Brasil, há três diferentes espécies de lagartas de ocorrência mais comuns, que pertencem a subfamília Heliothinae, e que não podem ser diferenciadas em campo de forma prática. Essas espécies são: a lagarta-do-velho-mundo (Helicoverpa armigera) e a lagarta-da-espiga (Helicoverpa zea) que somente podem ser separadas entre si com a realização de testes de DNA, além da lagarta-da-maçã (Chloridea virescens) que também é facilmente confundida com as anteriores. Entre essas três espécies, Helicoverpa zea é única naturalmente tolerante aos efeitos da proteína Cry1Ac e, portanto, não constitui praga-alvo das biotecnologias de soja-Bt, tanto de primeira geração quanto de segunda geração, assim como por exemplo ocorre com as lagartas Spodoptera spp., que também não são pragas alvos de Cry1Ac.

Até o momento, as lagartas coletadas em campo e identificadas no laboratório são todas da espécie Helicoverpa zea. Então, diferentemente da broca-das-axilas, cuja ocorrência e manejo foram discutidos em artigo anterior neste blog, não existem indícios até o momento da ocorrência de populações de Helicoverpa armigera ou Chloridea virescens resistentes a Cry1Ac em campo. Isso não quer dizer que o sojicultor não precisa estar sempre atento, monitorando suas áreas de soja-Bt, principalmente durante climas quentes e secos, até pela razão que Cry1Ac não controla mesmo todas as lagartas associadas a soja. A proteína Cry1Ac tem como alvos a lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), a lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens), a lagarta-da-maçã do algodoeiro (Chloridea virescens) e a broca-das-axilas (Crocidosema aporema).

Como a separação entre as lagartas do gênero Helicoverpa e Chloridea virescens é muito difícil de ser realizada em campo, exigindo para isso, a observação das lagartas em laboratório, em lupas de maior aumento que as usadas no campo. A Embrapa Soja recomenda o manejo do grupo Heliothinae como um todo. Inseticidas somente devem ser utilizados quando quatro ou mais lagartas de Heliothinae foram amostradas em média por metro ou quando 30% de desfolha for observada para soja em estádio vegetativo do desenvolvimento. No estádio reprodutivo esse nível de ação deve ser reduzido pela metade, sendo recomendado que o controle seja realizado quando duas lagartas ou mais/metro ou 15% de desfolha forem observadas na média amostral. Aplicar inseticidas antes desse nível de ação ser atingido ou ultrapassado representa um desperdício (“jogar dinheiro fora”), sem qualquer benefício em produtividade. Além disso, é importante sempre considerar os riscos ao meio ambiente que a aplicação indiscriminada de inseticidas químicos pode trazer.

Vale ressaltar que adoção do refúgio estruturado é a principal estratégia para evitar problemas de resistência ao cultivo da soja-Bt. De forma simples, podemos definir o refúgio estruturado como o plantio de pelo menos 20% de soja não-Bt, semeado de forma que a distância de uma planta-Bt de uma planta não-Bt esteja dentro de no máximo 800 metros. A adoção do refúgio estruturado é fundamental para a preservação da eficiência da tecnologia da soja-Bt e é muito importante que seja adotado pela totalidade dos produtores que cultivam esses materiais em suas lavouras.
A Embrapa Soja continua estudando o assunto, mas os resultados obtidos até o momento permitem concluir, com toda segurança, que a adoção do Manejo Integrado de Pragas, a adoção do refúgio estruturado e o respeito aos níveis de ação no controle de pragas, é a solução que traz maior segurança financeira e ambiental para o agricultor. 

 

Fonte: https://blogs.canalrural.com.br/embrapasoja

 
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