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Ocorrência de lagartas resistentes à proteína Cry1Ac expressa em soja-Bt e principais cuidados

Adeney de Freitas Bueno, pesquisador em Entomologia e chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Soja

A primeira geração de soja-Bt aprovada no Brasil, MON 87701 × MON 89788 (Intacta RR2 Pro®) expressa a proteína inseticida Cry1Ac e foi disponibilizada comercialmente aos agricultores em 2013 como uma tecnologia para o manejo de algumas lagartas alvo: lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens), lagarta-da-maçã do algodoeiro (Chloridea virescens) e broca-das-axilas (Crocidosema aporema). Desde de sua disponibilização comercial, essa tecnologia foi bem aceita e rapidamente adotada pelo sojicultor brasileiro (Figura 1), principalmente devido sua grande facilidade de adoção e eficiência em campo. Entretanto, o controle eficiente realizado sete dias da semana, 24 horas por dia, proporciona uma grande pressão de seleção para insetos resistentes à tecnologia. Por isso, é essencial o plantio de pelo menos 20% de refúgio estruturado (soja não-Bt), semeado de forma que a distância de uma planta-Bt de uma planta não-Bt esteja dentro de no máximo 800 m. Para mais informações sobre o manejo de resistência de lagartas à soja-Bt, escute o podcast da programa Prosa Rural.

 

Figura 1. Cenário da adoção de soja-Bt no Brasil e a consequente não adoção do refúgio estruturado.

Infelizmente, devido à baixa adoção do refúgio estruturado no Brasil (Figura 1), a Embrapa Soja vem acompanhando nas últimas safras a ocorrência de populações de duas espécies de lagartas (Rachiplusia nu e Crocidosema aporema) resistentes a proteína inseticida Cry1Ac. Nesta nova safra que se inicia (2022/23), populações resistentes de broca-das-axilas (Crocidosema aporema) a Cry1Ac, favorecidas pela ocorrência de veranicos em algumas regiões, já têm sido novamente observadas. Nesse cenário de ocorrência da broca-das-axilas, apesar da preocupação de muitos produtores, vale ressaltar que essa praga tem pequena capacidade de reduzir a produtividade da soja e por isso o uso de inseticidas sintéticos somente deve ser adotado quando 50% ou mais das plantas apresentarem sintomas de ataque. Aplicar inseticidas químicos antes dessa infestação não traz benefícios para a produtividade e, portanto, não é justificável economicamente (Tabela 1).

 
Tabela 1. Produtividade (kg.ha-1) e plantas atacadas (%) e número de aplicações em experimentos realizados em 2020/2021 e 2021/2022 (Hayashida, 2022).
Tratamento Tibagi, PR, Safra 2020/21
Produtividade (kg.ha-1) Plantas atacadas (%) Número de aplicações
Com inseticida 3878,8 a 33,1 b 3
Sem inseticida 3815,8 a 56,5 a 0
Tratamento Mangueirinhas, PR, área 1, Safra 2021/22
Produtividade (kg.ha-1) Plantas atacadas (%) Número de aplicações
Com inseticida 1986,5 a 14,0 a 1
Sem inseticida 1966,7 a 14,4 a 0
Tratamento Mangueirinhas, PR, área 2, Safra 2021/22
Produtividade (kg.ha-1) Plantas atacadas (%) Número de aplicações
Com inseticida 2109,8 a 30,8 a 1
Sem inseticida 2119,4 a 27,7 a 0
Médias seguidas pela mesma letra na coluna e área não diferem entre si pelo teste-T (p>0.05).

 

Fonte: https://blogs.canalrural.com.br/embrapasoja

 
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