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Sistema de Integração Lavoura-Pecuária em solos arenosos

Alvadi Antonio Balbinot Junior, Chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Soja

Os solos de textura arenosa possuem baixa capacidade de retenção de água, aumentando os riscos de perdas por estiagens. Esse fato é agravado em regiões com clima quente e chuvas irregulares. Uma das regiões brasileiras que apresenta essas características é o noroeste do Paraná. Essa região apresenta as menores produtividades médias de soja do estado, além de possuir as maiores variações de rendimento da oleaginosa ao longo das safras. Além disso, em função da degradação da qualidade do solo, há predomínio de pastagens perenes com baixa produtividade e sérios problemas de erosão. Várias regiões brasileiras apresentam características similares, o que gera grande desafio de aumentar a produtividade econômica das áreas.  

O cultivo de grãos, sobretudo a soja, em Sistema de Integração Lavoura-Pecuária (SILP) é uma oportunidade para otimizar o uso de solos arenosos. As primeiras práticas necessárias para a implantação correta da soja, em áreas de pastagem degradada, são a correção de desníveis, a calagem, a gessagem e a fosfatagem, seguindo as recomendações técnicas. Dessa forma, a inserção da soja permite a correção química do solo com retornos econômicos no curto prazo, em função do ciclo curto da cultura.

Por outro lado, quando a soja é cultivada por várias safras consecutivas há degradação física do solo e empobrecimento de atributos biológicos, como o carbono da biomassa microbiana. Isso ocorre porque a soja possui reduzido crescimento de raízes e baixa produção de biomassa. A reintrodução de pastagens perenes contribui para a restruturação do solo, por meio do crescimento vigoroso das raízes e da alta produção de biomassa, bem como para alavancar a atividade biológica do solo. Para isso, é fundamental o ajuste da lotação animal que permita a manutenção da altura de plantas recomendada para cada espécie forrageira. 

Em solos arenosos, a cobertura permanente com plantas ou com palha é um dos fundamentos do SILP. A cobertura do solo reduz as perdas de água por evaporação, o que é relevante em solos com baixa capacidade de armazenamento de água disponível às plantas. A redução dos picos de temperatura do solo nas horas mais quentes do dia é outro importante benefício da cobertura do solo, com reflexos positivos sobre a absorção de água e nutrientes pelas raízes, bem como sobre a eficiência de processos intermediados por microrganismos, como a fixação biológica do nitrogênio. Além disso, a cobertura do solo minimiza o processo erosivo, diminui o selamento superficial, melhora a plantabilidade da soja e reduz a emergência de plantas daninhas. Nesse sentido, é fundamental o planejamento das espécies a serem cultivadas ao longo do tempo, evitando que o solo fique descoberto.

Um modelo de SILP que pode ser utilizado como referência em solos arenosos é a rotação de dois anos com pastagem perene com dois anos de soja. Entre as duas safras de soja é cultivada pastagem anual, de tal forma que na primavera/verão metade da área da fazenda é utilizada com soja e a outra metade com pastagem perene e no outono/inverno toda a área cultivada da fazenda é ocupada com pastagens. Assim, na época de menor produção de forragem (outono/inverno) há maior área para produção animal. Nesse modelo, quando a forragem começa a reduzir a produtividade, depois de dois anos de pastejo, a soja retorna à área e, após dois anos com soja, quando já há indícios de degradação física e biológica do solo, a pastagem perene é reintroduzida. Esse é apenas um modelo de SILP, o qual deve ser ajustado para cada situação.

Nas últimas duas décadas, houve evolução significativa na geração de conhecimentos e tecnologias para viabilizar o SILP em solos arenosos e clima quente, o que permitiu o aumento do uso desse sistema de produção no Brasil. No entanto, são necessários planejamento e assistência técnica especializada, focando em altas produtividade e rentabilidade do sistema de produção como um todo. Certamente o SILP contribuirá significativamente para o fortalecimento do agronegócio brasileiro, conciliando rentabilidade com conservação dos recursos ambientais. 

 

Fonte: https://blogs.canalrural.com.br/embrapasoja

 
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