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Sucesso do milho brasileiro

Amélio Dall’Agnol e Walter F. Meirelles, pesquisadores da Embrapa

Em menos de duas décadas, o Brasil evoluiu da condição de ser apenas um grande consumidor de milho para tornar-se o terceiro produtor e consolidar-se como segundo maior exportador mundial do grão. A partir de 2011, houve um crescimento espetacular da cultura, e o país definiu seu potencial como fornecedor do grão para o mercado internacional e, principalmente, a sua habilidade na produção de milho segunda safra, após a colheita da soja, deixando para esta o privilégio do plantio na primavera. Essa estratégia foi possibilitada pelo desenvolvimento de cultivares de soja que podem ser semeadas mais cedo e colhidas antecipadamente, estendendo a janela ideal para a semeadura do milho segunda safra. 

Apesar do potencial exportador do País, nos últimos três anos houve retração nas exportações do cereal, dada a forte quebra na produção das últimas safras na Região Sul. Nesses anos, os exportadores passaram a privilegiar o mercado interno, que passou a ser abastecido majoritariamente pelos estados da região central do Brasil, que sofreram menos com as estiagens (MT, GO e MS, em especial). 

Na temporada 2021/2022, para algumas áreas do oeste da Região Sul, estão previstas quebras de até 70% do milho primeira safra (primavera/verão), que deverá resultar em produção nacional inferior a 24 milhões de toneladas (Mt). Para a safrinha da temporada, a Agência AgResource estima a produção em mais de 85 Mt – por enquanto – que somados aos 24 Mt da primeira safra e aos 1,77 Mt da terceira safra (Região de SeAlBa, englobando Sergipe, Alagoas e Bahia), totalizaria cerca de 110 Mt. O alto preço do grão no mercado interno está favorecendo a importação de milho mais barato de outros países, da Argentina, principalmente. 

Apesar das produções de milho e soja terem sido afetadas por contrariedades climáticas na Região Sul, suas áreas cultivadas cresceram no País e, segundo a AgResource, totalizam 20,93 Mha para o milho e 41,03 Mha para a soja. 

Se, por um lado, a produção brasileira de milho não foi a esperada, por outro lado a China, o segundo maior produtor global do grão, aumentou significativamente a sua produção, descomprimindo a demanda mundial. Desde 2015 o país asiático impunha restrições internas ao cultivo do milho em favor de outros alimentos. A safra chinesa de 2021 finalizou com a colheita de 273 Mt, 12% maior que a da safra anterior. Um aumento desejado pela China, pois havia se tornado uma grande importadora de milho, o que era uma antiga expectativa dos países exportadores. 

Somente nos dez primeiros meses de 2021, a China importou 26 Mt de milho, três vezes mais do que na temporada anterior, promovendo uma disparada nos preços de mercado do grão. Apesar do crescimento da produção, a demanda chinesa por milho continuará crescendo em ritmo acelerado, devido ao aumento e à melhoria das dietas alimentares da população, estima o Rabobank, banco especializado em agronegócio. Segundo o banco, o consumo mundial de milho deverá crescer 25% até 2030, saindo de 1,144 bilhão de toneladas em 2021 para 1,430 bilhão de toneladas em 2030. O banco adianta, também, que o comércio global de milho mostrará um incremento ainda mais robusto, impulsionado pelo crescimento da produção de proteína animal, tensões geopolíticas, clima adverso, ganhos de produtividade e restrições na área cultivada. Brasil, Argentina, Ucrânia e Estados Unidos serão os que mais se beneficiarão dessa evolução global no grão, pois todos têm potencial de produção adicional e o Brasil está bem posicionado para assumir a liderança, visto ser capaz de produzir a maior parte do seu milho na mesma área e mesma safra da soja, um fato inédito no mundo.

Entretanto, uma produção maior de milho tem um problema: o preço dos fertilizantes minerais – em especial dos nitrogenados – que, em 2021 subiram 61%, relativamente a 2020, segundo dados do portal FertilizerDaily, indicando a necessidade de o produtor ser parcimonioso no seu uso, para evitar aplicações além das necessárias, fazendo uso racional desses imprescindíveis nutrientes sem, no entanto, comprometer o potencial produtivo da planta. Ainda que os fertilizantes encareceram a produção, segundo a Consultoria TF Agroeconômica, os preços de venda do grão deverão ser favoráveis ao produtor, dada a menor oferta do produto.

O Brasil não esperava assumir tamanha importância no comércio mundial de milho em tão curto espaço de tempo. É mais um produto a fortalecer nossa balança de pagamentos.

 

Fonte: https://blogs.canalrural.com.br/embrapasoja

 
 
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