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A cultura do trigo no Brasil

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja

O trigo, juntamente com o milho e o arroz, constitui o trio de ouro dos cereais cultivados no planeta. O seu cultivo data de 11 mil anos a.C. e teve início no Oriente Médio, na região compreendida entre os rios Tigre e Eufrates, alastrando-se posteriormente pela Europa e Ásia.

Em 2020, com uma área cultivada de 2,3 Milhões de hectares (Mha) de trigo e produção de 6,3 milhões de toneladas (Mt), o Brasil foi apenas o décimo sexto produtor mundial, depois de China, União Europeia, Índia, Rússia, EUA, Canadá e Austrália, entre outros, que no conjunto entregam uma produção global de 765 Mt.

Para a próxima safra brasileira de 2021, existe uma expectativa de que a produção será superior a 7 Mt, dado o aumento da área cultivada, estimulada principalmente pelos bons preços de mercado, demanda aquecida pelo câmbio favorável e pelas restrições do governo argentino às exportações da produção deles.
O trigo foi trazido ao Brasil pelos portugueses na época do seu descobrimento (Martin Afonso de Souza, em 1534), estabelecendo os primeiros cultivos na Província de São Vicente, atual estado de São Paulo, onde não teve muito êxito por causa das condições climáticas desfavoráveis da região para as variedades do cereal trazidas da Europa. Posteriormente, a cultura migrou para os estados da Região Sul, onde o clima é mais ameno e encontrou condições mais favoráveis para desenvolver-se com relativo sucesso. Do século XVII até início do século XIX houve euforia com o cultivo do cereal no Brasil, a partir de quando retrocedeu e quase desapareceu por problemas fitossanitários; ferrugem da folha, principalmente.

A produção voltou a crescer no século XX com os incentivos (política de preços mínimos e financiamento) disponibilizados pelo Governo Federal ao seu cultivo e pelo êxito no desenvolvimento de variedades nativas adaptadas às condições brasileiras. Como exemplo de cultivar, destaca-se a Frontana (1940), considerada até hoje a maior contribuição do melhoramento genético mundial ao trigo, dada a resistência da planta adulta à ferrugem da folha, à debulha e à germinação na espiga.

Mas esse deslanche não foi suficiente para tornar o Brasil autossuficiente na produção de trigo, que ainda depende da importação de mais de 6 Mt segundo a ABITRIGO (2020); aproximadamente 50% do que consome. Os principais fornecedores de trigo ao Brasil são a Argentina (mais de 80%) e os EUA (cerca de 10%). A grande produção de trigo no mundo se concentra nos países de climas mais frios (América do Norte, Europa e Ásia). No Brasil, o cultivo predomina nos estados da Região Sul, com 89% da produção nacional, mas ensaia uma inclusão do cereal, em larga escala, na região do Cerrado, onde as contrariedades climáticas, principalmente quando irrigado, são menores.

Para ter-se uma ideia dos problemas que o trigo tem enfrentado na Região Sul; das últimas 60 safras, em 31 delas ocorreram perdas significativas por geadas, doenças ou excesso de chuvas na colheita. É difícil que esses problemas ocorram na região tropical do Brasil central. Além disso, a produção do cerrado tem apresentado uma das melhores qualidades do mundo. Por este motivo, seria estratégico que o Brasil logre fazer com a cultura do trigo o que fez com a soja: tropicalizá-lo. Trigo, a próxima revolução no Cerrado brasileiro. E atenção, vem aí o trigo tolerante ao déficit hídrico.

 

Fonte: https://blogs.canalrural.com.br/embrapasoja

 
 
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