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Fósforo, o nutriente que não se mexe

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja

O fósforo (P) é um dos nutrientes mais limitantes no crescimento das plantas em solo brasileiro. Juntamente com o nitrogênio (N) e o potássio (K) forma o conhecido trio NPK, integrante das formulações de fertilizantes utilizadas na adubação das culturas. Esses nutrientes são requeridos em quantidades relativamente elevadas (g/kg), razão pela qual são denominados de macronutrientes, grupo ao qual também pertencem o cálcio (Ca), o magnésio (Mg) e o enxofre (S). Outros nutrientes, requeridos em menores quantidades (mg/kg), mas nem por isso menos importantes na nutrição das plantas, são denominados micronutrientes. São eles o boro (B), o cloro (Cl), o cobre (Cu), o ferro (Fe), o manganês (Mn), o molibdênio (Mo), o níquel (Ni) e o zinco (Zn).

 

Pela ordem decrescente de exigências nutricionais da soja em macronutrientes, o nitrogênio vem em primeiro lugar, seguido pelo K, Ca, Mg, P e S. A grande demanda pelo nitrogênio deve-se à necessidade excepcional que a soja tem para “fabricar” as proteínas que constituem cerca de 40% do seu peso. Afortunadamente, o grande aporte de N para a soja vem da fixação biológica, processo simbiótico que dispensa sua adição como fertilizante químico, podendo economizar bilhões de dólares por ano, se a totalidade da área cultivada com soja no Brasil utilizasse a inoculação com bactérias fixadoras de nitrogênio, ao invés de adubos nitrogenados químicos.

Além de essencial para o metabolismo energético da soja, como constituinte da molécula de ATP, o fósforo também contribui para a nodulação e a fixação do nitrogênio atmosférico. Seus sintomas de deficiência não são bem definidos. O retardamento no crescimento da planta é o principal deles. Também interfere nos processos de fotossíntese, respiração, armazenamento e transferência de energia, divisão celular e crescimento das células. Por interferir em vários processos vitais das plantas, é fundamental que o fósforo esteja presente desde a germinação, principalmente em plantas de ciclo curto, como a soja.

No solo, o fósforo apresenta-se compartimentalizado e a maior parte indisponível às plantas. No entanto, até mesmo a fração disponível é considerada imóvel; razão pela qual as raízes precisam explorar um maior volume de solo para alcançá-lo, daí a importância da inoculação das sementes com Azospirillum, bactéria promotora do crescimento das raízes. Os processos de fixação de fósforo e as perdas de solo por erosão são os principais responsáveis pela redução da disponibilidade desse nutriente no solo. Diferentemente do solo, na planta ele se apresenta com grande mobilidade.

A maior parte do fósforo não se encontra livre na natureza, mas imobilizado como formas insolúveis de fosfatos de Ca, Fe e alumínio (Al) ou fortemente adsorvido aos argilominerais dos solos tropicais. Em condições de elevada acidez, os processos de precipitação e adsorção dos fosfatos são favorecidos, reduzindo fortemente a disponibilidade de fósforo para assimilação pelas plantas.

Parte do fósforo disponível no solo é absorvida e imobilizada pelos vegetais e pelos microrganismos e retorna ao solo com o ciclo da mineralização da matéria orgânica. Os solos brasileiros são carentes de fósforo em consequência do material de origem e da forte interação do nutriente com o solo. Menos de 0,1% do fósforo presente no solo encontra-se disponível para absorção pelas plantas.

Os principais sintomas de deficiência de fósforo são plantas pequenas, número reduzido de frutos, atraso no florescimento e folhas velhas com arroxeado característico devido à sua alta mobilidade dos tecidos velhos para os mais novos. Acúmulo de matéria orgânica no solo, como a proporcionada pelo sistema plantio direto, é benéfica para a disponibilização do nutriente às plantas, pois a matéria orgânica interage com os óxidos de Al e Fe, resultando em redução dos sítios de fixação e maior aproveitamento pela planta do fósforo oriundo da adubação fosfatada. A eficiência agronômica dos adubos fosfatados pode ser afetada pelas fontes de fosfato, propriedades do solo, formas de aplicação, sistemas de produção e espécies vegetais.

A resposta da adição de fósforo às plantas varia com a cultura e, inclusive, com as cultivares dentro da mesma cultura. A fase mais crítica da deficiência de fósforo em soja é na fase de pegamento das vagens, mais até, do que na fase de enchimento dos grãos. O acompanhamento da lavoura é fundamental para identificar sinais de deficiência, embora, quando os sinais forem evidentes, a produção já foi afetada.

O Brasil depende da importação de adubos fosfatados em cerca de 50% das suas necessidades, cuja procedência são as grandes jazidas do mineral encontradas no Marrocos, na Argélia, na Rússia e nos Estados Unidos. No Brasil, as principais reservas encontram-se em Araxá (MG), Olinda (PE) e Jacupiranga (SP).  O problema do fósforo nos solos brasileiros não está na sua baixa concentração e sim, na baixa disponibilidade do nutriente às plantas. Segundo estudo da Revista Nature, cerca de 70% do fósforo aplicado via fertilizantes minerais ou orgânicos é acumulado no solo em formas pouco ou nada acessíveis às plantas.

Para que a fonte não se esgote, a solução pode estar no reaproveitamento do nutriente que está acumulado no solo, para a reversão do processo de fixação, via manejos da calagem, sistema plantio direto com rotação de culturas, sistemas integrados de lavouras com pecuária (ILP) e utilização de bioinsumos que promovam o crescimento do sistema radicular das plantas e a solubilização de formas indisponíveis de fósforo do solo.
Fósforo, um nutriente que pouco se move no solo. As raízes precisam “correr” atrás dele.

 

Fonte: https://blogs.canalrural.com.br/embrapasoja

 
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