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Nematoides: um problema subestimado na soja

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja

A dificuldade de perceber e identificar a presença desses vermes minúsculos, faz com que passem despercebidos em muitos casos e que os sintomas sejam atribuídos a outras causas.

Talvez alguns leitores estranhem a afirmativa que dá título a este artigo argumentando que os problemas fitossanitários mais importantes da cultura da soja já estão bem definidos: ferrugem-asiática, percevejos e lagartas desfolhadoras. Mas de fato, os nematoides são problemas críticos para a cultura, pois inibem a absorção de água e nutrientes, prejudicando o desenvolvimento da planta.  A dificuldade de perceber e identificar a presença desses vermes minúsculos, faz com que passem despercebidos em muitos casos e que os sintomas sejam atribuídos a outras causas.

Existem mais de 15.000 espécies de nematoides já descritas na natureza. Dessas, 4.100 tem as plantas como hospedeiras e mais de 100, são associadas à cultura da soja. Estão onde estão porque são nativas ou porque foram introduzidas no local direta ou indiretamente pelo homem. No conjunto, causam perdas globais às culturas de 10,6% da produção ou cerca de US$ 100 bilhões anuais. Para a soja brasileira o prejuízo está estimado em R$ 16,5 bilhões (RS$ 3,7 bilhões).

Os nematoides mais deletérios às lavouras de soja no Brasil são: o formador de galhas (Meloidogyne spp.), o de cisto (Heterodera glycines) e o das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus). Além de causarem danos diretos às plantas de soja, as lesões causadas às raízes da planta são porta de entrada para outros parasitas (fungos e bactérias, entre outros), causando danos indiretos. Recentemente foi identificado mais um nematoide causando danos à cultura, esse atacando a parte aérea. Trata-se de Aphelenchoides besseyi, que causa haste verde e retenção foliar, doença que ficou conhecida como “soja louca II”.

O nematoide das galhas é considerado o mais importante para a soja no Brasil porque é o mais disperso pelo território e porque sua presença é facilmente notada pelas deformações que provoca no sistema radicular. Esta espécie torna-se, também, importante porque é polífaga, razão pela qual é difícil encontrar uma cultura não hospedeira que possa ser utilizada em rotação/sucessão para seu controle. 

As demais espécies só mereceram atenção muito recentemente. Interessante observar que o nematoide de cisto, o mais agressivo e capaz de zerar a produção de uma lavoura de soja, foi ignorado no Brasil até a safra 1991/92 quando foi descoberto (Lordello et al), apesar de sua presença nos Estados Unidos ser conhecida há décadas e onde é considerado o principal problema fitossanitário da cultura. Havia grande preocupação no Brasil nas décadas de 1970 a 1990, quando o cultivo da oleaginosa começou a deslanchar no País, quanto ao risco de introduzir esse nematoide dos Estados Unidos, onde já causava sérios prejuízos: responsável por 28% dos 31% de prejuízo que os nematoides causam à produção norteammericana de soja. 

Embora sempre tenham sido pragas importantes das lavouras de soja do Brasil, os nematoides foram ignorados porque seus sintomas não foram percebidos ou, quando percebidos, foram atribuídos a outras pragas ou doenças. Reboleiras com plantas nanicas e com folhas amareladas são sintomas típicos do ataque de nematoides. A grande importância dos nematoides como pragas deve-se ao fato de que uma vez presentes na lavoura, é praticamente impossível erradicá-los. O melhor que pode ser feito é mantê-los abaixo do nível de dano econômico, realizando o manejo integrado de nematoides com o uso de cultivares tolerantes/resistentes, se houverem; sucessão / rotação de culturas; controle biológico; pousio; e, por último, uso de agrotóxicos que, em grandes áreas, pode ser inviável pelo custo.

A adoção do sistema de plantio direto em larga escala no Brasil desfavoreceu uma maior disseminação dos nematoides, dada a pouca erosão que o sistema causa. Também, pode ser uma estratégia para manter a população de nematoides abaixo do nível de dano econômico, a inserção no sistema de plantas de cobertura (ou adubos verdes) não hospedeiras dos nematoides presentes na propriedade, razão pela qual, primeiro o agricultor precisa saber qual é o nematoide que está infestando a sua lavoura.

Mas tem nematoides que, embora presentes no solo, não causam problemas às plantas cultivadas, pois se alimentam de materiais orgânicos, são parasitas de outros organismos vivos que habitam o solo ou, até, podem ser inimigos naturais de outras pragas da soja. 

Se os nematoides que infestam uma propriedade não forem nativos, importante tomar todas as precauções para evitar a sua introdução, os prejuízos são enormes. Segundo estimativas da Sociedade Brasileira de Nematologia eles causam perdas de R$ 35 bilhões anuais às lavouras do Brasil.

 
 

 

Fonte: https://blogs.canalrural.com.br/embrapasoja

 
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