ÚLTIMAS NOTÍCIAS
A diversificação de culturas como insumo no sistema de produção

Muitos produtores já perceberam os benefícios e vem aprimorando as formas de diversificação, outros ainda estão em fase de convencimento.

Osmar Conte, pesquisador da Embrapa Soja

A importância de se realizar a diversificação de culturas no sistema de produção está alicerçada em diversas fundamentações técnicas. Produzir raízes e palha para cobrir a superfície, melhorar a estrutura e sustentar a biologia do solo, ciclar nutrientes, descontinuar ciclos de pragas, doenças e plantas daninhas, estão entre as principais razões para se investir na diversificação de culturas.

A diversificação e a rotação de culturas tem o intuito de aumentar a diversidade de espécies usadas no sistema de produção, incluindo aquelas com o propósito de produzir palha e raízes. Do ponto de vista técnico, a rotação de culturas é mais difícil de ser implementada, pois preconiza que uma mesma cultura não pode ser produzida na mesma área e estação de crescimento em anos subsequentes. Dessa forma, nos sistemas de produção predominantes no Brasil, seria praticamente impossível realizar a rotação de culturas, visto que a soja tem a prioridade na ocupação da áreas no verão (37 Mha), sendo sucedida pelo milho segunda safra onde as condições de cultivo ocorrem (13 Mha).

A priorização da soja em relação ao milho tem sido ditada pela  remuneração que a commodity tem proporcionado ao longo dos anos, mas também pelas facilidades de manejo,  menor risco e porque possui uma cadeia produtiva estruturada assim como preços internacionais e negociações futuras. Para garantir de forma satisfatória e estável desempenho produtivo da soja e milho, as principais culturas econômicas, é preciso assegurar sustentabilidade no
ambiente de produção, principalmente no solo que é a base de tudo. O desafio reside em diversificar sem deixar de produzir e auferir ganhos com as culturas produtores de grãos.

No cenário climático subtropical, a soja, o milho e o trigo são as principais culturas produtoras de grãos, e o arranjo das mesmas ao longo do ano e das estações de crescimento pouco se altera, e diversificar significa inserir outras espécies com propósito de melhorar o ambiente de produção. Assim sendo, a oportunidade de diversificar surge na janela de cultivo existente entre a colheita da soja, ou o milho de verão, e a semeadura do trigo. Para o cultivo de janela, são indicadas culturas de crescimento rápido, a exemplo do milheto, capim sudão, nabo e até o trigo mourisco, que podem ter um período de cultivo entre 45 e 80 dias até serem manejadas química ou mecanicamente para dar espaço a cultura de inverno.

Em manejo do solo, considera-se extremamente importante oportunizar o cultivo de espécies gramíneas estivais por possuírem amplo sistema radicular e elevada taxa de acúmulo de biomassa, mesmo sendo implantadas após a soja. Nesse contexto, é importante entender que implantar culturas de cobertura é sinônimo de investimento, sendo necessário um desembolso imediato, o qual pode garantir colheitas fartas e estáveis ao longo dos anos. O investimento é relativamente baixo, composto basicamente por sementes e operação de semeadura, muitas vezes já compensado pela redução na necessidade de controles sucessivos de plantas daninhas ao longo da entressafra.

No ambiente tropical, os sistemas de produção são distintos e a sucessão principal é soja seguida de milho segunda safra. O desafio é como diversificar sem abrir mão de produzir as culturas que remuneram.  A consorciação é a forma de cultivo onde duas ou mais plantas ocupam o solo ao mesmo tempo, com diferentes propósitos.

A soja é uma cultura para qual não se têm tecnologias aplicadas ao cultivo consorciado, por razões diversas. Já com o milho, dispõe-se de diferentes formas de consorciação, principalmente com as espécies de braquiárias e crotalárias. Para o consórcio milho e braquiária existe recomendação técnica com ajustes desde a forma de implantação, espécie da braquiária a ser usada, quantidade de sementes, manejo químico, adubação e dessecação.

Dispõe-se de um pacote tecnológico bem avançado para essa tecnologia, permitindo produzir o milho safra ou segunda safra no consórcio, sem comprometer o desempenho produtivo do mesmo e complementando os benefícios como a cobertura do solo, sistema radicular, diminuição de plantas daninhas, persistência de palhada e diversificação, por ter sido inserida mais uma espécie no sistema. Os mesmos benefícios podem ser conseguidos na consorciação do milho com crotalárias, com a vantagem de se obter fixação biológica de nitrogênio e supressão de nematoides no solo.

Diversificar é preciso, não resta dúvidas do ponto de vista técnico. Quanto aos produtores, muitos já perceberam os benefícios e vem aprimorando as formas de diversificação, outros ainda estão em fase de convencimento. Esses precisam se conscientizar dos benefícios, enquanto aqueles já dão novos passos experimentando inclusive a diversificação de culturas por meio do consórcio de espécies de plantas semeadas conjuntamente.

 

https://blogs.canalrural.com.br/embrapasoja

 
Fale conosco