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Análise da safra agrícola de 2019/20

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja

A safra 2019/20 caminha para o encerramento, com mais de 90% da soja já colhida, e expectativa de que a colheita do milho safrinha começará em junho, encerando a temporada. A expectativa era de colheita aproximada de 248 milhões de toneladas (Mt) de grãos, mas isto foi superado, apesar da quebra da safra gaúcha de soja em cerca de 7.0 Mt. Mesmo com a frustração da safra gaúcha, a produção de grãos do Brasil será recorde em cerca de 252 Mt dada a produção maior do que a esperada para a soja nos estados do Paraná, São Paulo, Mato Grosso Sul, Tocantins, Piauí e Maranhão.

A chuva no Rio Grande do Sul tem faltado desde agosto de 2019, assim como – com menor intensidade – também ocorreu nos estados de Santa Catarina e no Paraná. Prova disto é a vazão do Rio Iguaçu, registrada nas Cataratas em 31/3/2020 (228 milhões de m³), o menor registro da história (cinco vezes menor do que a vazão normal do rio), indicando que a falta de umidade foi generalizada na Região Sul, que, embora pouca, foi melhor distribuída no Paraná e Santa Catarina do que no Rio Grande do Sul.

Quanto à produção de soja, a euforia sobre a possibilidade de o Brasil superar os Estados Unidos (EUA) se realizou com folga na safra 2018/19, quando o Brasil colheu 120,75 Mt (ABIOVE) e na safra subsequente de 2019/20, os americanos colheram apenas 96,8 Mt – 24 Mt menos que o Brasil. Mas o Brasil acalentava a possibilidade de colher mais de 125 Mt, pela boa produtividade estimada até março de 2020 (3.400 kg/ha, em área de 37 Mha, totalizando 125.800 Mt segundo indicavam agências como a FCStone). Este montante afastaria os americanos da possibilidade de recuperarem a liderança da produção mundial da oleaginosa, visto que sua pequena produção na safra 2019/20 deveu-se a condições climáticas adversas na fase de estabelecimento da lavoura, o que inibiu a semeadura de cerca de 3.0 milhões de hectares, que voltarão a ser cultivados na temporada 2020/21, cuja semeadura iniciou agora em abril (2020) e estimada em 33,79 Mha, ante 30.79 Mha cultivados em 2019/20.

Embora com área cultivada com soja menor do que a do Brasil (33 Mha vs. 37 Mha), os EUA têm potencial para produzir mais, dada a maior produtividade dos seus campos de produção: cerca de 3.500 kg/ha ante 3.300 kg/ ha do Brasil, que sonhou, até, com a possibilidade de uma safra próxima das 130 Mt. Mas o cenário de safra enfrentado pelo Rio Grande do Sul não ajudou e a produção deste estado está estimada encerrar a temporada com 12,14 Mt, ante uma estimativa de 19,7 Mt; 6,61 Mt menor do que as 18,75 Mt da safra 2018/19. Mesmo assim, dificilmente os EUA voltarão a liderar a produção de soja na safra que começaram a semear. Futuramente, a possibilidade será ainda menor, já que a área cultivada no Brasil cresce a bom ritmo porque conta com muita área com potencial para ser explorado. O mesmo não acontece com os EUA, cuja área só poderá crescer em desfavor de outras culturas.
Dadas as boas perspectivas de mercado, tanto para a soja (R$ 80 a R$ 100) quanto para o milho (R$ 60 a R$ 70) e a continuidade de queda na área cultivada com outros grãos – com exceção do algodão – cujos preços continuam estimuladores pela demanda asiática, a aposta é de que o agro brasileiro vai continuar surpreendendo com super ofertas de produtos agrícolas a cada nova safra, podendo alcançar as 300 Mt dentro de 8 anos, a continuar com o atual ritmo de crescimento.

A eficiente produção agrícola em regiões tropicais de baixa latitude, onde o Brasil figura como modelo de eficiência e sustentabilidade, merece respeito e elogios da comunidade internacional.
Apesar da frustração parcial da safra gaúcha de soja, a produção total de grãos do Brasil será recorde (122 Mt), repetindo o comportamento das últimas décadas, quando a produção do ano, via de regra, superou a do ano anterior.

 

Fonte: https://blogs.canalrural.com.br

 
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