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Os benefícios da biotecnologia na agricultura

Amélio Dall’Agnol e Francismar C. Marcelino-Guimarães, pesquisadores da Embrapa Soja

As culturas transgênicas constituem hoje os principais produtos biotecnológicos disponíveis no setor agrícola, com destaque para a soja, o milho e o algodão resistentes a diferentes herbicidas e insetos. Transgênico, conforme o próprio nome indica, é um organismo vivo (planta ou animal) cujo DNA foi modificado pela inserção de um ou mais genes estranhos à sua espécie.

O primeiro produto vegetal comercial geneticamente modificado foi desenvolvido nos Estados Unidos (EUA), em 1994. Segundo o Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), em 2018 o mundo cultivava 191,7 milhões de hectares (Mha) com Plantas Geneticamente Modificadas (PGM), a maior parte com soja, milho e algodão. A liderança pertence aos EUA com 75 Mha, seguido pelo Brasil (51,3 Mha) e pela Argentina (23,9 Mha). Coincidentemente, estes são os três principais produtores mundiais de soja e, também, são grandes produtores de milho (1º, 3º e 4º, respectivamente) e de algodão (3º, 5º e 9º, respectivamente), justificando o seu protagonismo no cultivo de PGM.

Mutações que geram mudanças nas características dos seres vivos surgem espontaneamente na natureza e, caso contribuam para a melhoria de algum caráter desejável são selecionadas, uma vez que os indivíduos que as possuem serão favorecidos, deixando mais descendentes na população – processo conhecido como seleção natural. No entanto, de modo geral, grande parte das mutações geram alterações indesejadas, que são descartadas. Deste modo, seria algo muito raro a natureza desenvolver algo similar a um transgene, espontaneamente. Para que esse milagre ocorra, seriam necessários milhares de anos, ante apenas alguns anos ou décadas com a utilização das modernas técnicas da engenharia genética.

Os produtos transgênicos comercializados em nível mundial são seguros, pois só são liberados no ambiente após a realização de rigorosos testes em laboratório e a campo e supervisionados por comissões oficiais criadas especialmente para cuidar dessa segurança. No Brasil, quem supervisiona o desenvolvimento dos transgênicos é a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) que, para garantir a segurança dos produtos modificados geneticamente, rege-se por uma das legislações mais rigorosas e restritivas do mundo.
A produtividade da soja aumentou consistentemente no correr das últimas décadas, o que contribuiu para ganhos em produção sem a necessidade de demandas por mais áreas de cultivo e, desse modo, evitando a pressão por mais desmatamentos. Este aumento foi apoiado, em parte, pela redução da concorrência das plantas daninhas com lavouras de soja resistentes a herbicidas, em especial, o glifosato.

Atualmente, o Planeta conta com quase 8,0 bilhões de pessoas e serão cerca de 10 bilhões em 2050, para o que, segundo a FAO, a humanidade precisaria aumentar a produção de alimentos em cerca de 60%, originados, principalmente, do aumento da produtividade. Segundo relatório do World Resources Institute (WRI), a transgenia será uma ferramenta importante nesta tarefa, em um mundo cada vez mais carente de água e áreas agricultáveis. O potencial das lavouras transgênicas em aumentar a produtividade dos campos de produção pode ser importante ferramenta na tarefa de produzir mais nas áreas que já cultivamos, pois novos desmatamentos são fortemente desaconselhados e precisam ser evitados.

Aliado ao uso das tecnologias transgenes, hoje também vislumbramos novas ferramentas biotecnológicas que permitem gerar tais mutações de modo preciso no DNA, contribuindo para a variabilidade genética, sem ter a necessidade de se gerar um transgene.
Estamos diante de uma das tecnologias mais revolucionarias – com aplicações não restritas à agricultura – denominada de edição gênica, em que uma das técnicas é o CRISPR (do inglês Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats). Nesta tecnologia, é possível fazer a alteração no DNA de forma precisa, sem que ocorra nenhuma outra mudança no DNA, a não ser a mutação desejada. Por exemplo, cientistas utilizaram esta tecnologia para “nocautear” genes do trigo que ativam as proteínas do glúten, levando à produção de um trigo com baixos teores de glúten, o qual favorece o consumo por parte de pessoas que têm intolerância a essas proteínas e podem desenvolver a doença celíaca. No caso da soja, por exemplo, a tecnologia pode ser utilizada para a inativação de enzimas antinutricionais e a produção de óleos com altos índices de ácido oleico, similar ao azeite de oliva, entre outros.

A Revolução Verde do Século XX impulsionou a produção de alimentos com uso intensivo de insumos – fertilizantes e agrotóxicos, em especial. Com essas ferramentas a produção de alimentos cresceu. Agora, os pesquisadores precisam encontrar novas maneiras de avançar, incluindo o uso de modificações genéticas, via transgenia ou edição gênica, para alcançar novos patamares de produtividade.
Alimentos transgênicos são seguros. Não tema consumi-los.

 

Fonte: https://blogs.canalrural.uol.com.br/embrapasoja/2019/10/15/os-beneficios-da-biotecnologia-na-agricultura/

 
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