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Avaliação da fertilidade do solo: critérios para recomendação da adubação

Adilson de Oliveira Junior e Cesar de Castro, pesquisadores da Embrapa Soja

Apesar de todos os avanços tecnológicos na agricultura, desde o levantamento e análise de dados, bem como a utilização de fertilizantes com várias inovações tecnológicas embutidas, como fertilizantes de liberação controlada, nanotecnologias, drones, entre outras, tem sido comum os erros na recomendação da adubação e o aparecimento de sintomas de deficiência ou toxicidade de nutrientes em diversas culturas, além de fome oculta e desbalanços nutricionais que afetam negativamente a produtividade.

Ainda que as novas tecnologias promovam o aumento da eficiência do uso dos fertilizantes, a carência de um diagnóstico correto, quer seja pelo uso ineficiente das análises de solo, pela quase total falta de adoção da análise de tecido vegetal, pela negligência em sua realização e interpretação, ou ainda, pela aplicação incorreta de conceitos modernos de manejo da fertilidade, tem determinado uma maior frequência de desbalanços nutricionais associados à redução do potencial produtivo das culturas e a qualidade da produção agrícola.

Antes de se fazer um diagnóstico do estado nutricional das plantas, torna-se imprescindível observar algumas informações para distinguir os sintomas nutricionais de outras possíveis causas, tais como: incidência de pragas ou doenças, ocorrência de eventos climáticos extremos e intempéries incomuns, histórico de adubação, distribuição das plantas com sintomas na lavoura, simetria dos sintomas nas folhas com mesma idade fisiológica e gradiente de desenvolvimento dos sintomas nas plantas.

Assim, não obstante a possibilidade de identificação visual de sintomas nutricionais, a identificação correta e quantificação do “nível” de deficiência ou toxicidade, o monitoramento do estado nutricional da cultura da soja e, consequentemente a recomendação de adubação requerem duas ferramentas indispensáveis: análise do solo e análise foliar, bem como sua interpretação criteriosa.

Principais critérios para recomendação de adubação

A adubação deve ser realizada a partir de critérios técnicos que permitam avaliar corretamente a fertilidade do solo e propiciem o uso eficiente dos fertilizantes, o atendimento das necessidades nutricionais das plantas e a máxima eficiência econômica para o produtor. A avaliação da fertilidade do solo baseia-se na identificação de fatores nutricionais que limitam a obtenção de altas produtividades, por meio da análise química de solo, podendo ser complementada pela diagnose foliar.

Além da análise de solo, o histórico das adubações e de correções do solo, além dos patamares de produtividades almejados deveriam ser os principais critérios técnicos para a tomada de decisão. É interessante observar que, no Brasil, existem redes oficiais de laboratórios credenciados de análises de solo e de tecido que atendem as principais regiões agrícolas do país, que em muito poderiam ajudar no diagnóstico e, consequentemente, na tomada de decisão. No entanto, apesar do maior uso da análise de solo, é comum seu emprego basicamente para efeitos de correção de solo e adubação com fósforo e potássio. Por exemplo, micronutrientes, quando são solicitados, não são criteriosamente observados e interpretados, gerando inadequada solução dos problemas.

As análises de folhas, as quais deveriam ser práticas rotineiras num empreendimento agrícola, são um capítulo à parte no manejo da adubação ou avaliação do estado nutricional das plantas. Poucos agricultores utilizam as análises de tecidos, mesmo sendo uma forma eficaz de avaliar o estado nutricional das plantas e a eficiência do manejo das adubações previamente adotados. Ou seja, é possível, em condições adequadas, a partir da análise de folhas, informar se os nutrientes à disposição das plantas no solo estão sendo absorvidos pelas mesmas.

É possível também, através de tabelas de interpretação de teores de nutrientes ou Sistemas Integrados de Diagnose, como por exemplo o DRIS, avaliar não somente se os nutrientes estão em concentração adequadas, mas, também o equilíbrio nutricional entre os mesmos e, desta forma, montar estratégias de adubação mais eficientes, principalmente com o alto valor dos fertilizantes no custo de produção, além do potencial de perdas ou contaminação do ambiente.

O nitrogênio (N) é o nutriente mais exigido pela soja, que extrai cerca 78 kg de N por tonelada de grãos e, deste total, 54 são exportados pelos grãos. Apesar da exportação de quase 70% do N absorvido, a prática da inoculação e a eficiência da fixação biológica de nitrogênio atende as necessidades da soja, mesmo aquelas de alta produtividade. Assim, o fósforo e o potássio são os nutrientes que devem receber maior atenção na adubação da soja, isso porque, depois do N, são os nutrientes aplicados em maiores quantidades anualmente. Para o fósforo, ao redor de 16 kg de P2O5 são absorvidos por tonelada de grãos e destes, 11-13 kg de P2Opor hectare são exportados em cada tonelada de grãos. Portanto, por exemplo, para atender somente a exportação de uma produção de 4,0 t de soja por hectare, considerando uma eficiência teórica de 100% de eficiência de aproveitamento da adubação, seria necessária a adubação mínima de 44 a 52 kg de P2Opor hectare.

O potássio é um caso especial, tendo em vista a grande absorção do nutriente para a produção de soja, alcançando redor de 48 kg de K2O/tonelada de grãos e, deste total, em média são exportados pelos grãos, 20-22 kg de K2O/t. Considerando-se a mesma produção de soja por hectare (4,0 t/ha), utilizada para o exemplo do fósforo, seriam necessários, somente para atender a retirada do nutriente pelos grãos da lavoura, ao redor de 84 kg de K2O, ou 140 kg/ha de cloreto de potássio (KCl).

Quando comparada a outras culturas que compõem os sistemas de produção, como o milho, trigo e até mesmo o girassol, cultura reconhecida como grande consumidora de K e eficiente quanto ao seu aproveitamento ao longo do perfil do solo, a quantidade de potássio exportada pela soja é muito superior às demais, alcançando quase 40 % do total absorvido. Essa grande exportação de potássio, quando não devidamente reaplicada, tem sido responsável pela grande número de casos de lavouras com sintomas de deficiência do nutriente (Figura 1) e de redução das produtividades. É importante destacar que existem muitas situações onde os sintomas aparecem em reboleiras ou faixas, confundindo um pouco a identificação, ou ainda não aparecem sintomas de deficiência nutricional, mas as plantas estão com teores abaixo das necessidades metabólicas, levando ao quadro de fome oculta, onde há a redução da produtividade, sem o agricultor perceber a causa.


Figura 1. Área com plantas de soja apresentando sintomas de deficiência de potássio em reboleiras, principalmente nas folhas do terço superior.

Na Figura 2, observa-se uma representação gráfica da disponibilidade de um nutriente no solo como critério para recomendação da adubação, que depende do nível de fertilidade dos solos, ou seja, dos teores de nutrientes no solo. Para solos com teores muito baixos até o nível médio, deve-se adotar o manejo da adubação para a construção da fertilidade (C). Esses são solos característicos de abertura de área ou de pastagens degradadas, entre outros, que em função da grande deficiência nutricional, apresentam grande resposta de produção aos aumentos das doses de nutrientes. Para solos com teor alto de nutrientes, apesar de aumentos de produtividades, em função do aumento das doses de nutrientes, os mesmos, muitas vezes, não compensam os investimentos em adubação, em função dos menores ganhos de produtividades. Nesse caso, são consideradas as adubações de manutenção (M), que objetivam manter os teores de nutrientes no solo e atender a demanda das culturas que compões os sistemas de produção. Por último, em solos com teores muito altos de nutrientes, as adubações devem se ater, basicamente a reposição (R) da fertilidade, ou seja, as quantidades exportadas pelos grãos das culturas. Via de regra, as doses para C são maiores que as doses de M, que por vez são maiores que as doses de R.

Fonte: Resende et al., (2016) – Informações Agronômicas 156 – Dez-2016.                                        Figura 2. Delimitação das classes de teores de nutrientes, relacionados com as produções relativas

 

Fonte: https://blogs.canalrural.uol.com.br/embrapasoja/2019/09/03/avaliacao-da-fertilidade-do-solo-criterios-para-recomendacao-da-adubacao/

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