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Milho como alimento e como biocombustível

Amélio Dall’Agnol e Walter Fernandes Meirelles, pesquisadores da Embrapa

O milho é o cereal mais produzido no mundo: mais de 1,0 bilhão de toneladas em 2018. Os EUA lideram a produção mundial com cerca de 370 milhões de toneladas (Mt), seguido pela China (220 Mt) e, num distante 3º lugar, o Brasil (101 Mt). Este cereal é muito cultivado em razão de sua demanda, tanto para alimentar humanos, quanto animais. E agora, também, para abastecer veículos, foco deste artigo.
A produção de milho no Brasil deslanchou recentemente, quase dobrando o volume em uma década (52 Mt em 2008 ante 101 Mt esperados para 2019). Embora seja o terceiro na produção mundial, o país caminha para consolidar-se como 2º exportador global, com cerca de 30 Mt anuais, e já chegou a exportar 36 Mt em 2015/16. A principal limitação para uma exportação mais robusta do cereal reside no elevado custo do seu transporte do Centro Oeste, principal região produtora, até os portos, o que vem estimulando a agroindústria de etanol a estabelecer-se na região para produzir o biocombustível, aproveitando o baixo custo local da matéria prima.

A produção de etanol de milho se concentra nos EUA, onde a produção de cana tem pouca viabilidade, dada a prevalência de clima temperado na maior parte do seu território. Cana, milho e beterraba são as principais matérias primas utilizadas na produção mundial de etanol, com destaque para a cana, a mais eficiente. Os Estados Unidos (EUA) lideram a produção desse biocombustível a partir do processamento de milho, o Brasil é vice líder processando, principalmente, cana de açúcar e a Europa produz etanol a partir da beterraba açucareira.

O etanol de milho é menos eficiente do que o produzido a partir da cana. Mas, quem não tem a opção da cana e é gigante na produção de milho, como os EUA, usa o milho como alternativa. Os EUA processam anualmente mais de 150 Mt de milho para a produção de 60 Mt de etanol. O Brasil é o 2º maior produtor deste biocombustível (30,3 Mt em 2018), mas apenas 1,4 Mt provêm do processamento de milho. O restante é produzido a partir da cana de açúcar, cuja produção está estagnada no Brasil, favorecendo a opção pelo milho como matéria prima para a produção de etanol.

A demanda pelo etanol combustível surgiu como alternativa à utilização dos combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão mineral), dado o potencial poluidor dos gases de efeito estufa (GEE) que eles emitem. O etanol, produzido a partir do processamento da cana ou do milho, é considerado menos poluente para o ambiente que a gasolina, porque parte da premissa de que o CO2 liberado pela queima do biocombustível numa safra, é recapturado pela fotossíntese das novas lavouras de cana ou de milho na temporada seguinte. Outra vantagem é a geração de muito mais empregos em comparação com a indústria petrolífera.

O milho, embora seja mais eficiente na produção de etanol por tonelada de produto (400 litros/ton), produz muito menos biocombustível por área plantada do que a cana (2.400 lts/ha vs. 7.160 lts/ha), considerando a produtividade média do milho brasileiro de 6 t/ha e de 80 t/ha da cana. Já nos EUA, onde a produtividade média do milho é quase o dobro da brasileira (11 t/ha), a produção de etanol/ha é bem maior (4.400 litros), mas, ainda assim, bastante inferior ao montante energético produzido/ha pela cana brasileira.

Estudos indicam que o etanol de milho custa cerca de US$ 0,27/litro ante US$ 0,24/litro da cana e que sua viabilidade nos EUA depende dos subsídios que o produtor recebe do governo, assim como acontece com o etanol obtido da beterraba na Europa, cujo custo é ainda maior do que o do milho: US$ 0,76/litro.

A geração de GEE, assim como o balanço energético, favorece a produção de etanol da cana, o que torna questionável o benefício proveniente do milho ou da beterraba, na redução da emissão desses gases. Apesar das desvantagens quanto ao maior custo e menor produtividade/ha do etanol de milho em relação ao da cana, o subproduto deixado por ambas as matérias primas favorece o cereal. O subproduto deixado pelo processamento do milho (DDG- Distillers Dried Grains ou “bagaço do milho”) é mais valorizado que o bagaço deixado pela cana e pode substituir parcialmente o grão do milho na alimentação de animais. Outra vantagem do milho é que o grão pode ser armazenado e utilizado à medida das necessidades da indústria, o que não acontece com a cana, que precisa ser processada logo após a colheita. No entanto, o resíduo do processamento da cana (bagaço) também tem seu valor na geração de energia para abastecimento da própria usina e o excedente gerado pode ser exportado para a rede elétrica pública, rendendo dividendos à usina.

É na Região Centro Oeste, particularmente no Mato Grosso (MT), que se concentra o maior potencial para a geração de etanol de milho no Brasil, dado o grande volume de grãos ali produzidos, seu relativo baixo consumo regional e o pouco valor comercial do cereal em razão do alto custo para transportá-lo até os portos ou outro centro de consumo.

Está correta a atual estratégia da agroindústria brasileira de transferir unidades processadoras de milho e de soja para a região onde se concentra a produção dos grãos (Centro Oeste), para que os empresários locais agreguem valor, transformando-os em produtos com maior valor agregado (carne, por ex), cujo transporte é muito menos oneroso e mais eficiente que o dos grãos.
São promissoras as expectativas de produção de mais etanol de milho no Brasil. Já existem 10 unidades em operação industrial e três novas usinas exclusivas para etanol de milho estão projetadas para os próximos anos – todas no MT. Prevê-se que para os próximos 10 anos a produção de etanol de milho passará das atuais 1,4 Mt para 8.0 Mt, contribuindo para que mais biocombustível seja utilizado em veículos de transporte.

 

Fonte: https://blogs.canalrural.uol.com.br/embrapasoja/2019/08/06/milho-como-alimento-e-como-biocombustivel/

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