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O potencial indiano para as exportações brasileiras

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja

A Índia e a China são civilizações muito antigas e são gigantes no território (3,29 milhões km² vs. 9,60 milhões km²) e na população (1,37 bilhões Índia vs. 1,40 bilhões China). Juntas perfazem mais de 36% da população mundial. Segundo a ONU, a população da Índia superará a da China em 2024, dado o seu maior ritmo de crescimento (1,26% Índia vs. 0,52% China) e os dois países sinalizam crescimento negativo a partir de 2030 (China) e 2065 (Índia), quando a população de ambos será de 1,44 bilhões e de 1,68 bilhões, respectivamente. Um contingente a ser carinhosamente considerado pelo Brasil nas relações comerciais bilaterais.

A China já está no radar do Brasil há muito tempo e a Índia está apenas dando os primeiros passos, mas promete muito.
Um país como o Brasil, grande exportador de commodities agrícolas, não pode desconsiderar o potencial que a Índia tem como grande consumidor de produtos agrícolas brasileiros, consequência do expressivo aumento da renda per capita que sua gigantesca população está experimentando. Na média dos dois últimos anos, o PIB indiano cresceu a taxas próximas a 7%, sinalizando que o país poderá tornar-se uma segunda China para o mercado brasileiro, evoluindo da atual pífia balança comercial bilateral (menos de U$ 5,0 bilhões/ano) para montantes muito mais expressivos. O comércio bilateral Brasil/China também era inexpressivo até 1990 e rapidamente evoluiu, fazendo com que a China se tornasse o principal interlocutor comercial do Brasil, de quem ela compra mais de U$ 50 bilhões anuais.

A consolidação dessa promessa pode ocorrer tendo-se em vista que a economia indiana abriu-se para o mercado externo a partir dos anos 90, quando as exportações representavam apenas 7% do PIB e foram para 21% na média dos anos 2014-2016. As importações evoluíram de 8% para 23%, no mesmo período. Dado o ainda forte crescimento da população e da franca expansão da economia, a Índia, muito provavelmente, demandará importação de alimentos, visto que seu espaço para ampliar a produção local é muito limitado. Considere-se, ainda, que boa parcela da população indiana sobrevive na extrema pobreza porque carece de condições financeiras para alimentar-se adequadamente. Mas esta realidade, prevê-se, será superada no médio prazo, considerando a manutenção do atual nível de crescimento da renda per capita. Uma vez no mercado, esse contingente passará a demandar mais alimentos, que precisarão ser buscados em algum lugar, que pode ser no Brasil.

Além da demanda alimentar promovida pelo crescimento populacional, grande contingente de indianos deverá migrar do campo (onde vive 70% da população) para as cidades em busca dos empregos gerados pela rápida industrialização do país. Na cidade, estes ex-produtores rurais serão consumidores e demandarão os alimentos que não mais produzem, igual aconteceu com os chineses, onde 55% da população já vive na cidade (eram apenas 26%, em 1990) e tornaram-se fonte de demanda de produtos importados do Brasil.
O Brasil aguarda ansioso pela provável demanda indiana por commodities agrícolas, ciente de que será um dos principais provedores.

 

 

Fonte: https://blogs.canalrural.uol.com.br/embrapasoja/2018/12/11/o-potencial-indiano-para-as-exportacoes-brasileiras/

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